Produção de óleo vegetal cresce na Amazônia com apoio a crédito e gestão comunitária

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Na Amazônia, o crédito rural pode ir além de uma operação financeira. Quando acompanhado de gestão técnica qualificada e sensível à realidade das comunidades extrativistas, ele se torna um instrumento potente de desenvolvimento sustentável. A experiência da ASPACS (Associação de Produtores Agroextrativistas da Colônia do Sardinha), na Reserva Extrativista Médio Purus (AM), é um exemplo concreto dessa transformação.

Com o apoio da Conexsus, a associação viu sua produção de óleo vegetal, especialmente de copaíba, alcançar novos patamares. Em 2024, foram produzidas 10 toneladas, com a expectativa de chegar a 30 toneladas em 2025 — um salto significativo para um território que, historicamente, enfrenta desafios de acesso a crédito, estrutura produtiva e escoamento.

Crédito rural como política de fortalecimento comunitário

O que diferencia essa iniciativa é a combinação de financiamento e assessoria técnica. O Programa de Assessoria e Gestão para Crédito Rural, com gestão da Conexsus, vai além do repasse de recursos: oferece apoio contínuo à estruturação financeira das associações e cooperativas, orientando desde a construção de projetos de crédito até o acompanhamento dos investimentos em campo.

 

 

Segundo Adriano Santos, coordenador do programa, essa abordagem integrada é essencial:

“A concessão de um crédito adequado à realidade da ASPACS é fundamental para seu desenvolvimento econômico. Mas é o acompanhamento técnico contínuo que assegura não apenas a boa aplicação dos recursos, mas o fortalecimento organizacional do empreendimento. Ao apoiar a gestão no dia a dia, conseguimos impulsionar melhorias estruturais e gerar resultados mais consistentes e sustentáveis.”

A assessoria oferecida inclui o uso de ferramentas como fluxo de caixa, análise de risco e projeções de receita e custo, permitindo que as organizações tenham mais clareza sobre a viabilidade de suas operações e o impacto do financiamento sobre sua capacidade produtiva.

O papel da produção de óleo vegetal na bioeconomia amazônica

A produção de óleo vegetal a partir do extrativismo sustentável — como a copaíba — tem grande potencial de geração de renda e conservação da floresta. Diferente de monoculturas ou cadeias que exigem desmatamento, os óleos vegetais extraídos de forma responsável valorizam os ativos florestais em pé, promovem inclusão produtiva e impulsionam a bioeconomia regional.

O crédito viabiliza etapas cruciais desse processo, como:

  • Aquisição da matéria-prima no tempo certo, com pagamento justo aos extrativistas;

  • Melhoria da infraestrutura de processamento e armazenagem;

  • Ampliação da produção e regularidade de entrega ao mercado;

  • Adequação sanitária e ganho de qualidade nos produtos;

  • Geração de renda em cadeias de valor sustentáveis.

Ao profissionalizar a gestão da ASPACS e garantir acesso a capital de giro sob condições justas e adaptadas, a Conexsus contribui para que o óleo de copaíba produzido no Médio Purus atenda novos mercados — desde a indústria cosmética até o setor de fitoterápicos.

 

 

Crédito como ferramenta de justiça econômica

Para Marcikely Santos, presidente da ASPACS, o acesso ao crédito transformou como a comunidade enxerga sua própria capacidade produtiva:

“Seja para comprar equipamentos, matéria-prima ou ampliar a produção. Com isso, fortalece-se a economia da comunidade e cria-se um ciclo positivo de desenvolvimento. Quando bem planejado e gerenciado, o crédito se torna um motor de crescimento sustentável, ajudando comunidades a prosperarem.”

A experiência da ASPACS demonstra que o crédito rural, quando aliado à assessoria especializada, não é somente uma alavanca econômica: é uma ferramenta de justiça territorial, inclusão social e valorização dos modos de vida tradicionais.

Caminhos para escalar o impacto

Expandir o modelo da ASPACS para outras organizações amazônicas exige políticas públicas e privadas que reconheçam as particularidades da região: sazonalidade da produção, dificuldade logística, falta de garantia formal, entre outros fatores. É preciso investir em mecanismos de financiamento híbridos, que combinem crédito reembolsável, apoio a fundo perdido e assistência técnica permanente.

Além disso, o fortalecimento da produção de óleo vegetal na Amazônia deve estar no centro das estratégias de bioeconomia, priorizando o protagonismo das comunidades locais.