Na vastidão da Amazônia, onde a natureza se mostra em sua plenitude, encontramos não apenas uma riqueza exuberante em fauna e flora, mas também comunidades que extraem da terra e dos rios sua subsistência e identidade cultural. Uma dessas comunidades é a ASTRUJ, Associação dos Trabalhadores Rurais de Juruá, que se destaca pela produção tradicional de farinha e pirarucu de manejo, além de se aventurar em novas fronteiras, como a produção de oleaginosas da Amazônia, incluindo a manteiga de murumuru.
O desafio de aperfeiçoar a qualidade da produção de farinha para alcançar novos mercados levou 35 representantes de 6 comunidades produtoras da ASTRUJ a participarem da Oficina de Boas Práticas de Fabricação dos Derivados da Mandioca. Organizada pela Conexsus e realizada recentemente na Comunidade Antonina, a iniciativa buscou fortalecer não apenas a qualidade do produto final, mas também a sustentabilidade e viabilidade econômica das comunidades envolvidas.
Ministrado pela Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM), o curso proporcionou uma imersão nos seguintes temas: boas práticas de higienização, fabricação de derivados da mandioca, produção de subprodutos da mandioca, condicionamento, armazenamento, transporte e comercialização. Essa abordagem holística não apenas ressalta a importância da qualidade do produto em si, mas também da eficiência e segurança em todas as etapas do processo produtivo.
Para o presidente da ASTRUJ, Antônio Marcos, a Oficina foi de suma importância para os produtores: “O treinamento feito pelo IDAM com parceria com a Conexsus foi bem importante para nós. Nem todas as comunidades que trabalham com a produção de farinha trabalham de forma adequada. A gente sabe que é um processo e nem sempre vai estar nos padrões, mas com esse curso, vimos como tem que ser feito para colocar o produto no mercado agregando valor”, explica.
Para a ativadora de Negócios Comunitários no Amazonas, Amanda Leal, apesar do produto ter muita qualidade, ainda era necessário o aperfeiçoamento compartilhado na oficina para atender os requisitos do mercado: “Eles precisavam aprender como apresentar e levar o produto deles para fora do território, para se tornar conhecido e também evidenciar os produtos da Amazônia. São produtos muito bons, produzidos de forma absolutamente sustentável, de impacto social e ambiental positivo. Com o curso, de boas práticas, eles aprenderam sobre a qualidade, puderam ajustar os aspectos da qualidade para que consigam entrar no grande mercado”, explica.
Além de aprenderem as melhores técnicas de produção de farinha, os participantes foram apresentados a produtos inovadores à base de mandioca, como a farinha gourmet, enriquecida com temperos diversos e castanhas, doces, salgados, ração animal com reaproveitamento das cascas e até mesmo o queijo de mandioca. Essa diversificação não só amplia as oportunidades de mercado, mas também agrega valor aos produtos tradicionais, destacando o potencial da mandioca como matéria-prima versátil e nutritiva.
De acordo com Antônio, o aperfeiçoamento para o aproveitamento dos subprodutos também será fundamental para os associados: “Temos uma variedade de subprodutos da mandioca, alguns a gente já conhecia, mas conseguimos aperfeiçoar, outros a gente nem sabia e conseguimos aprender. Isso tudo foi de grande importância porque agora nossos produtores terão mais produtos para trabalhar e, com isso, uma renda extra dos subprodutos”.
“São variações que eles não conheciam, então deu super certo! Eles ficaram muito entusiasmados com a possibilidade de inovar um produto tão tradicional”, acrescenta Amanda.
Com uma capacidade de produção estimada em 800 toneladas/ano de farinha, produzida em áreas de controle ambiental na Reserva Extrativista do Médio Juruá, a ASTRUJ demonstra que é possível conciliar desenvolvimento econômico com conservação ambiental. Em 2023, a associação também obteve sucesso na pesca de 60 toneladas de pirarucu selvagem, sob um sistema de manejo monitorado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), evidenciando o potencial de geração de renda em harmonia com a preservação dos recursos naturais.
Além do aprimoramento técnico na produção de farinha, a Conexsus aproveitou a oportunidade para fortalecer outras áreas estratégicas da ASTRUJ, incluindo comunicação, cadastramento socioprodutivo e parcerias com instituições locais, como o IDAM de Juruá. Essas ações complementares visam não apenas fortalecer as comunidades locais, mas também promover uma gestão mais eficiente e sustentável dos recursos naturais da região.
“Com a oficina, as comunidades que ainda não produzem farinha de qualidade ou conhecem a questão dos subprodutos, tiveram a oportunidade de aprender e botar em prática os conhecimentos em seus territórios. Aprender os critérios de seleção, saber direitinho os procedimentos, como é que se faz, ter o maior cuidado na hora da produção desses alimentos”, afirma Antônio.
Segundo Amanda Leal, a oficina foi um sucesso e cumpriu o seu papel: “A gente quer apoiar as cadeias da economia da floresta em pé e da agricultura familiar sustentável. O curso durou quatro dias, mas foi intenso. Começávamos às oito horas da manhã, era para terminar às 17h mas, às vezes, nós fomos até às 21h. E era muita prática, foi realmente uma imersão, era falado naturalmente, explicado, contextualizado, conversado e em seguida eles já partiam para a parte prática”.
No coração da Amazônia, onde os rios fluem e a floresta pulsa com vida, as comunidades do Baixo Juruá estão escrevendo uma nova história, onde a tradição se encontra com a inovação, e o desenvolvimento caminha lado a lado com a conservação. E é nesse cenário de desafios e oportunidades que a ASTRUJ e suas comunidades parceiras estão construindo um futuro mais próspero e sustentável para todos.