Atividade é voltada ao desenvolvimento de negócios comunitários sustentáveis – cooperativas e associações da região
“Quando soubemos que teria esse evento nossos olhos brilharam, porque era exatamente o que a gente estava buscando” – esse foi o relato de um dos participantes da primeira atividade do Desafio Conexsus, realizado pela Conexsus – Conexões Sustentáveis no dia 14 de junho, em Belém (PA). Com programação de atividades voltadas aos negócios de base comunitária da região, participaram do encontro 17 organizações, além de parceiros do Desafio.
O autor do depoimento é Francisco Samonek da Cooperativa de Produção dos Ecoextrativistas da Amazônia (Coopereco) e fundador do Poloprobio – Pólo de Proteção da Biodiversidade e Uso Sustentável dos Recursos Naturais, que, entre suas vertentes, se dedica à qualificação e certificação de produtores de borracha orgânica que é transformada em chinelos e outros produtos pela cooperativa. A meta, a médio prazo, é envolver no negócio entre quatro e cinco mil famílias da Ilha de Marajó e região.
A produção ainda é pequena, mas para poder encontrar e chegar ao mercado do produto ele percebe a necessidade de investimento na agroindústria. Porém onde conseguir captar o recurso e como detectar e contatar esse mercado? “O evento nos mostrou exatamente esses desafios e caminhos em busca de soluções para o problema, tudo em conjunto, em rede”, concluiu.
No início da atividade, que durou o dia todo, foi apresentado o Desafio Conexsus e explicado em que consistem os negócios comunitários sustentáveis. O conceito considera a sustentabilidade de maneira ampla, envolvendo sustentabilidade econômica, ambiental e a preservação da biodiversdiade. “Por isso é importante que as organizações envolvam e criem oportunidades para jovens, mulheres e diferentes populações. Estamos olhando para esses negócios não apenas porque são comunitários, mas porque são sustentáveis e porque valorizam o maior ativo da Amazônia: a fauna, a flora e as pessoas”, observou a diretora de operações da Conexsus, Carina Pimenta. Para aproveitar e desenvolver esse ativo, é necessário conectar os envolvidos, ela completa.
Depois os outros dois desafios foram apresentados aos participantes, para serem desenvolvidos e discutidos em grupos: Como estruturar negócios comunitários e cadeias produtivas sustentáveis e como compor novos arranjos para comercialização e acesso a mercados. Ao final, foram apresentados novos instrumentos de acesso a recursos financeiros.
O Desafio tem como objetivo desenvolver, no período de um ano, soluções para ampliar a comercialização, o acesso ao crédito e a outros instrumentos financeiros adequados a negócios comunitário sustentáveis em todo o Brasil. “Foi uma oportunidade de ver a diversidade de negócios que a gente tem na Amazônia, os seus potenciais, as suas grandes cadeias e como é importante esse espaço compartilhado, para que eles possam trocar experiências, aprender um com o outro e com isso fortalecer seu próprio negócio e uma rede de organizações alinhada com o princípio de promover negócios comunitários sustentáveis”, complementa Pimenta.
Parceiros
Apoiaram e participaram diretamente do evento os parceiros Grupo Pão de Açúcar, por meio do Instituto GPA, Instituto Peabiru, Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) e também organizações como a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e The Forest Trust (TFT).
A participação dos parceiros locais foi essencial para entender melhor o contexto da região. O diretor geral do Instituto Peabiru, João Meirelles, um dos parceiros cocriadores do Desafio Conexsus, destacou a função da oficina como mostra de que há ações para serem realizadas observando a questão dos mercados institucionais. “É importante pois vemos como precisamos nos qualificar e repassar esse conhecimento e estas oportunidades para toda a comunidade com a qual o Instituto é envolvido”, explicou. O Instituto Peabiru trabalha com as populações ribeirinhas e comunidades tradicionais, como quilombolas e povos indígenas, para que tenham maior capacidade de exercer seus direitos, que inclui ter a capacidade produtiva para geração de renda local ao mesmo tempo em que permanecem em seu sistema natural. “Buscamos, com parcerias e capacitações como essa, construir caminhos e acompanhar o mercado”, concluiu Meirelles.
A antropóloga e professora da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Ruth Almeida, ministrou uma palestra durante a oficina e identificou que o propósito de conectar e trabalhar em rede, foco principal da Conexsus, combinava com o objetivo do aplicativo criado na Universidade e coordenado por ela. A ferramenta, em conjunto com outras ações da UFRA, procura unir os agricultores familiares e sua produção aos órgãos do governo que são obrigados por lei a comprar e utilizar em suas refeições produtos originados da agricultura familiar, como hospitais públicos, Exército e Marinha. A previsão é que o aplicativo seja lançado no segundo semestre de 2018. “O intuito é fazer essa conexão respeitando as diversidades e praticando a inclusão, com participação de mulheres e jovens da agricultura familiar, além de respeitar as especificidades locais da Amazônia e do Pará”, completou.
São parceiros estratégicos da Conexsus e do Desafio a Good Energies Foundation, Grupo Pão de Açúcar por meio do Instituto GPA, IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e Moore Foundation, Fundo Amazônia, Fundo Vale, Fundação Certi, GIZ – Cooperação Alemã para o desenvolvimento sustentável, Climate and Land Use Alliance (CLUA) e União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes).
As organizações participantes das oficinas – e todas as demais cadastradas – estão disponíveis para consulta pública em um mapa e um panorama online aqui.
Confira a lista das organizações do estado do Pará: