O isolamento geográfico, os altos custos logísticos que dificultavam a comercialização dos produtos tradicionais da floresta e o ideal de contratos mais justos, beneficiando toda a comunidade foram os principais fatores que levaram à criação da Rede de Cantinas da Terra do Meio, região do Pará localizada no coração da Amazônia. Em 2020, a pandemia ameaçou a continuidade do trabalho, colocando em risco a segurança alimentar de centenas de famílias extrativistas.
Com o início da crise sanitária provocada pela Covid-19, em março de 2020, e a adoção das medidas de restrição de acesso e segurança, a coleta e o escoamento da produção foram prejudicados, dificultando a comercialização e reduzindo o capital de giro da Amoreri – Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Rio Iriri, responsável pela coordenação da rede de cantinas.
“Então, nós soubemos do lançamento da Linha Emergencial da Conexsus para apoiar os pequenos negócios afetados pela pandemia do coronavírus. Nos inscrevemos e fomos aceitos, e o financiamento foi essencial para que a gente conseguisse fazer a roda girar”, explica Naldo Lima, assessor técnico da Amoreri.
Com autorização para realização de serviços essenciais, a Rede voltou à ativa, fazendo a coleta da produção e o pagamento imediato aos ribeirinhos, levando insumos e também informações sobre a pandemia e os cuidados que deveriam ser adotados. Como muitas comunidades se encontravam em situação de vulnerabilidade, uma das contribuições da Amoreri foi a distribuição de cestas básicas, doadas por diferentes instituições, às famílias de ribeirinhos.
A Amoreri conta com suporte oferecido pela Conexsus desde 2018. Ao longo de três anos, conseguiu desenvolver a gestão a partir de capacitações e treinamentos, aumentou as vendas por e-commerce e recebeu apoio para obtenção de financiamentos públicos.
Localizada na Resex Rio Iriri, a Amoreri foi criada em julho de 2006, inspirada na luta dos moradores da vizinha Resex Riozinho do Anfrísio. Representa os moradores do Rio Iriri na luta pela permanência da população tradicional no território, ameaçado pela presença de grupos de interesses econômicos, sobretudo grileiros que ocupavam grandes áreas de terras, transformando-as em fazendas.
Em seu trabalho, a associação, que conta com apoio de parceiros, vem promovendo a conservação ambiental, a melhoria da qualidade de vida dos extrativistas e indígenas, a possibilidade de proteção e a articulação entre esses povos e a geração de renda por meio da promoção e comercialização dos produtos florestais respeitando os modos de vida e autonomia das comunidades tradicionais.
Composta por 27 unidades, as cantinas são locais onde os povos ribeirinhos e indígenas levam seus produtos (castanha, babaçu, borracha, óleo de coco e copaíba) para vender ou trocar por itens de necessidade básica, (facão, botina, escova de dentes) e gêneros alimentícios que não produzem (arroz, macarrão, óleo, entre outros). Atendem cerca de três mil moradores de três reservas extrativistas, cinco terras indígenas e uma associação da agricultura familiar distribuídos em uma região que tem mais de 8 milhões de hectares.
As cantinas também são locais de troca de informações e diálogo sobre estratégias de defesa do território e sobre acesso a políticas públicas. São administradas por extrativistas ou indígenas escolhidos pelas associações de moradores locais. Atualmente, a rede é composta por 13 associações, algumas com mais de uma cantina. Também fazem parte da Rede, oito miniusinas de cinco Terras Indígenas.
Exemplos como da Amoeri mostram cada vez mais a importância das finanças de impacto para a manutenção de atividades ligadas à agricultura familiar e ao extrativismo. O impacto que esse tipo de crédito e outros serviços financeiros possuem para as comunidades é enorme e permite que esses trabalhadores continuem contribuindo para uma produção sustentável, gerando renda e ajudando a manter a floresta de pé. A Conexsus, assim, possui uma abordagem para ativar o ecossistema de empreendimentos comunitários que conservam florestas e biomas. Para isso, combina produtos e serviços financeiros, como a linha de crédito emergencial, oferecendo assistência técnica especializada para cooperativas, associações, micro e pequenas empresas e produtores.