Extrativistas da Central de Associações do Rio Canaticu deram um passo importante em 2014 para aumentar a renda da venda de açaí a indústrias de Belém – que o exportam como polpa, creme e pó. Com apoio dos institutos Pró-Natura e Peabiru, eles fundaram naquele ano a Cooperativa de Ribeirinhos e Extrativistas Agroindustrial do Marajó Ltda – Sementes do Marajó, sediada no município de Curralinho, no arquipélago do Marajó, Pará.
Desde então, a cooperativa tem sido instrumento importante para eliminar atravessadores na comercialização de sua produção de açaí, melhorando os preços pagos aos agricultores numa das cidades mais pobres do Brasil, classificada como um dos 21 municípios brasileiros com pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).Em janeiro de 2020, a Sementes do Marajó celebrou mais um passo fundamental para ampliar sua produção de açaí e aumentar a renda dos cooperados. Foram assinados com o Banco da Amazônia 33 contratos de crédito do Pronaf B, a linha de financiamento mais barata do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).Foram liberados em março pelo banco R$ 82.500,00, R$ 2,5 mil para cada um dos 33 agricultores. O juro anual é de 0,5% e há bônus de adimplência de 25% do valor financiado. Dessa forma, os cooperados terão um desconto de R$ 20.750,00, referente ao bônus, se o crédito for liquidado dentro do prazo de dois anos para o vencimento da parcela única devida ao banco.
Os recursos estão sendo usados para cobrir gastos com ferramentas usadas na coleta do açaí, nos deslocamentos entre as áreas dos açaizeiros e o terminal hidroviário de Curralinho e no transporte da produção por balsa até Belém. Sem financiamento, era difícil expandir a produção de açaí da região do rio Canaticu e os preços recebidos pelos extrativistas eram baixos.
“Nossos maiores problemas aqui são a falta de capital de giro e a dificuldade para acessar o crédito”, conta Carlos Baratinha Oliveira, presidente da Cooperativa Semente do Marajó. “Os bancos até têm vontade de financiar, mas têm medo de levar calote”, diz.
Para acessar o Pronaf B, a Sementes do Marajó precisou avançar mais rapidamente em sua profissionalização. Esse processo teve a contribuição da Conexsus, que iniciou sua atuação junto à cooperativa em agosto de 2018, por meio de sessões de mentoria em educação financeira, gestão e plano de negócios.
A partir do primeiro semestre de 2019 começaram negociações com a gerência da agência Belém Pedreira do Banco da Amazônia, responsável pelas operações da instituição em Curralinho, para sensibilizá-la a negociar com a cooperativa a liberação de crédito. No segundo semestre, o presidente da Sementes do Marajó fez uma apresentação na agência, passando a manter contatos frequentes com o banco.
“A parceria da Conexsus com a Sementes do Marajó permitiu ao banco maior segurança para negociar o financiamento com a cooperativa. A Conexsus fez um levantamento prévio da necessidade de crédito e identificou suas potencialidades”, explica Liércio Soares Silva, gerente da agência Belém Pedreira.
Silva conta que a proposta de financiamento foi aprovada depois da elaboração de estudo de viabilidade técnica e econômica pela consultoria Agrobio, também responsável pelo acompanhamento técnico do manejo do açaí durante a vigência dos contratos com o Banco da Amazônia.
Cinco das 33 operações foram realizadas por meio do aplicativo SuaContaBasa, que ainda estava na fase de testes pelo Banco. O aplicativo foi lançado para todos os clientes em maio deste ano, possibilitando o envio pela internet da documentação necessária para submeter uma proposta de financiamento. “O tempo de análise e aprovação do crédito diminui de um período de 45 a 60 dias para cerca de uma semana com o aplicativo”, observa o gerente do banco.
Em 2019, a produção de açaí da Sementes do Marajó alcançou 1.400 toneladas, 233% mais que a colheita de 420 toneladas no ano anterior. Este ano, porém, a pandemia de Covid-19 deve reduzir a safra, que vai de junho a dezembro, com pico nos meses de setembro e outubro.
Segundo o presidente da cooperativa, a prioridade este ano será capitalizar a cooperativa para antecipar a liquidação do empréstimo contraído com o Banco da Amazônia e formar um fundo de reserva. Oliveira relata que a Conexsus os ajudou a tomar decisões importantes para tornar o negócio com açaí mais rentável e profissionalizado.
“Aprendemos que é melhor sermos mais cautelosos com os gastos. Antes costumávamos ser muito otimistas com nossas previsões. O trabalho da Conexsus nos trouxe uma visão mais empresarial ao negócio.”
O fundo de reserva é parte do plano de estruturação da cooperativa até 2022, que inclui manter o relacionamento com o Banco da Amazônia para a contratação de crédito do Pronaf B e diversificar a produção para gerar mais renda na entressafra do açaí. Atualmente, 90% do faturamento vem do fruto.
Em janeiro de 2020, o Fundo Socioambiental Conexsus emprestou R$ 15 mil à Sementes do Marajó para cobrir gastos com o corte de palmito. Foram colhidos cerca de 25.000 palmitos até o fim de fevereiro, quando a atividade foi interrompida por causa da pandemia de coronavírus. O crédito foi liquidado em abril.
O apoio do Fundo faz parte do plano da cooperativa para aumentar a receita dos extrativistas no primeiro semestre, antes da safra principal. Além da coleta do palmito do açaí, a Sementes do Marajó pretende estimular a produção de farinha, frutas, verduras, legumes e mel. “O importante para a gente daqui para frente é ter capacitação e assistência técnica para diversificar nossa produção.”, pondera Oliveira.