A COOPAITER é uma das primeiras cooperativas da Amazônia compostas exclusivamente por indígenas e alia as tradições e conhecimentos do Povo Paiter Suruí com a conservação da floresta
Além das preocupações relacionadas aos cuidados com a saúde, o início da pandemia da Covid-19, em março de 2020, trouxe um problema adicional à COOPAITER – Cooperativa de Produção e Desenvolvimento do Povo Paiter-Suruí: não ter para quem vender a produção de grande parte da safra da castanha-do-Pará devido à paralisação do comércio e dos negócios. Foi então que a cooperativa recorreu à linha de crédito emergencial da Conexsus.
O financiamento foi usado para compor o capital de giro, dando fôlego à cooperativa até que a retomada gradual das atividades acontecesse. Com o recurso, foi possível oferecer um preço justo aos extrativistas e cooperados no momento da compra, evitando a entrega do produto aos atravessadores, que sempre oferecem um preço mais baixo, por fazerem o pagamento à vista. Essa oportunidade possibilitou o fortalecimento da cooperativa no território e junto a seus cooperados, bem como permitiu firmar um modelo de negócios onde, além de pagar o preço justo ao coletor, também garantiu condições de formar estoque e agregar valor ao produto.
Criada em 2017, a COOPAITER sustenta a condição de primeira cooperativa exclusivamente indígena com atuação multiprodutiva. É composta por, aproximadamente, 200 cooperados, sendo 40% mulheres, em 25 aldeias do Território Indígena Sete de Setembro, localizado em uma região fronteiriça, ao norte do município de Cacoal (RO), até o Município de Aripuanã (MT), com cerca de 240 mil hectares.
A parceria com a Conexsus, iniciada em 2020, proporcionou à cooperativa a obtenção de sua primeira linha de financiamento. Anteriormente, a COOPAITER já havia tentado outras opções, que sempre foram negadas, com alegações relativas à falta de estrutura da cooperativa, como relata Elisângela Dell-Armelina Suruí, gerente de produção da Cooperativa. “O fato de ser uma cooperativa composta somente por indígenas torna as oportunidades mais difíceis para nós”.
A assessoria fornecida pela Conexsus tem sido um grande aprendizado, marcado pela superação de dificuldades. Com pouca experiência na gestão financeira, a cooperativa superestimou sua capacidade de pagamento do financiamento na safra anterior. “Nós queríamos pagar o empréstimo rapidamente para pegar outro em seguida. Calculamos parcelas com um valor elevado para o nosso negócio e não conseguimos quitar no prazo que gostaríamos”, conta Elisângela, que foi uma das idealizadoras da cooperativa.
O apoio da Conexsus, a partir da elaboração de Plano de Negócio e Controles Financeiros, permitiu melhorias na gestão da produção, comercialização e na parte financeira da cooperativa. Um exemplo prático foi o início da comercialização da castanha-do-Pará por uma plataforma na internet.
Além da castanha-do-Pará, a cooperativa também trabalha com a cultura do café orgânico, da banana e com artesanato. A comercialização do café foi a primeira atividade realizada pela COOPAITER, resultando num contrato com a empresa 3 Corações com valores acima do mercado. A qualidade do café foi reconhecida em 2019 na Semana Internacional do Café, a principal ação de promoção do café brasileiro. O produto conquistou o 5º lugar, na categoria Conéfora, no Prêmio Coffee Of The Year 2019.
Assim como em outras etnias, o contato do Povo Paiter-Suruí com os não-indígenas foi marcado por confrontos e resistências. Em 52 anos (1969-2021), foram inúmeras perdas nos aspectos territorial, econômico, social e ambiental. Apesar de todas as situações e dificuldades encontradas com a inserção de uma cultura diferente, os Paiter-Suruí conseguiram estabelecer uma relação digna e autônoma com a sociedade do entorno.
Mesmo com o desafio de trabalhar o manejo, processamento e comercialização de produtos em terras indígenas, a cooperativa vem ampliando sua variedade de produtos e mercados, inserindo mais cooperados e dominando aspectos tecnológicos, comerciais e gerenciais, possibilitando a manutenção da cooperativa, pagando preços justos a seus cooperados e oferecendo produtos de qualidade, valorizando a identidade do Povo Paiter- Suruí e as formas sustentáveis de produção e manejo de recursos naturais.
Além do trabalho de assistência na comercialização da produção, que envolve grande parte dos cooperados e insere mulheres e jovens no extrativismo e apoio à gestão, a COOPAITER também realiza atividades relacionadas à organização social e a gestão dos Paiter-Suruí, como o reconhecimento dos indígenas como agricultores familiares pela Funai.
Oferta de crédito adequada ao contexto das cooperativas e associações, a linha de crédito emergencial faz parte do Plano de Resposta Socioambiental à Covid-19, programa criado em abril de 2020 pela Conexsus para reduzir os impactos da crise provocada pela pandemia nas organizações comunitárias de produção rural e extrativismo/manejo florestal em todo o Brasil.
O Plano foi construído em parceria com a UNICAFES (União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária), o CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas) e o Fundo Vale. E conta com o apoio da rede de supermercados Pão de Açúcar, por meio do Instituto GPA, da Fundação Arymax, Fundação Good Energies, CLUA, Instituto Humanize, B3, USAID, NPI Expand, por meio da Palladium, PPA e SITAWI.
Os financiamentos, realizados até dezembro de 2020, beneficiaram 82 negócios comunitários de impacto socioambiental, com o desembolso de mais de R$ 6,4 milhões – alcançando 15,3 mil produtores e extrativistas familiares em mais de 33,4 mil hectares. As principais cadeias beneficiadas pela linha foram as do açaí, castanha-do-Pará, cacau, hortifrúti e polpas de frutas.