Crédito facilitado permite cooperativa aumentar renda com arroz orgânico

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Crédito de R$ 350 mil foi obtido graças a aval do Fundo Socioambiental Conexsus e será investido na conclusão da usina de beneficiamento da Coperav (RS)

O caso em resumo

    • Faturamento da Coperav despencou cerca de 80% por causa da pandemia da Covid-19.
    • Fundo Conexsus emprestou R$ 35 mil para a cooperativa usar como aval para o crédito do Pronaf Investimento liberado pela Cresol.
    • Coperav economizará R$ 100 mil hoje gastos com o beneficiamento do arroz em terceiros e poderá aproveitar os subprodutos do processamento para iniciar a produção de ovos orgânicos.
    • Condição para acessar a linha emergencial é a inclusão de assessoria voltada à melhoria da gestão administrativa e financeira da organização.

O fechamento das escolas em março deste ano, por conta da pandemia da Covid-19, levou muitas prefeituras e governos estaduais a suspender a compra de alimentos produzidos pela agricultura familiar e utilizados na merenda escolar. Foi o que aconteceu com a Cooperativa dos Produtores Orgânicos da Reforma Agrária de Viamão (Coperav), município da região metropolitana de Porto Alegre. Com a suspensão das aulas, a cooperativa deixou de entregar seus produtos orgânicos a cerca de 600 escolas municipais e estaduais no Rio Grande do Sul.

Decorrência direta do corte no fornecimento de alimentos às escolas – que respondia por quase 90% da demanda da organização, o faturamento da Coperav caiu cerca de 80% desde o segundo trimestre. A padaria da cooperativa, por exemplo, que fabrica pães, biscoitos e cucas orgânicos, viu sua receita mensal despencar para aproximadamente R$ 5 mil, dez vezes menos que antes da pandemia.

Para atenuar o rombo financeiro e gerar fluxo de caixa, a cooperativa chegou a vender 5 mil sacas de arroz orgânico pelo preço do produto convencional, perdendo R$ 20 por saca. “Estamos tentando nos manter vivos e não demitimos nenhum funcionário até agora”, conta Huli Zang, diretor comercial da Coperav, que possui 151 associados, todos moradores do Assentamento Filhos de Sapé.

O revés sofrido pela entidade quase inviabilizou seu plano de concluir neste semestre as obras de sua usina de beneficiamento de arroz orgânico. Era intenção da cooperativa separar parte de sua receita como garantia na contratação de crédito da linha Pronaf Investimento. Contudo, a receita da organização quase virou pó com a pandemia da Covid-19.

Por recomendação da cooperativa de crédito Cresol, os dirigentes da Coperav procuraram a Conexsus para consultá-la sobre a possibilidade de contratar empréstimo da linha emergencial do Fundo Socioambiental Conexsus. A solicitação foi aprovada e o Fundo liberou em junho último R$ 35 mil para a entidade oferecer como garantia ao crédito de R$ 350 mil do Pronaf Investimento, aprovado logo em seguida pela Cresol.

Criada para atenuar os danos da pandemia no caixa das organizações comunitárias, a linha emergencial do Fundo tem juros de 6% ao ano, carência de seis meses e prazo de dois anos para o beneficiário amortizar o financiamento. No caso do Pronaf Investimento, o juro é de 4,6% ao ano com carência de até 10 anos.

A expectativa da diretoria da cooperativa é de que a usina de beneficiamento comece a operar ainda este ano. Como a capacidade de processamento deverá mais que dobrar, a planta poderá também receber arroz orgânico cultivado por agricultores do assentamento que não são associados à Coperav.

Impacto econômico do beneficiamento do arroz

Além de agregar valor ao produto, o beneficiamento do arroz permitirá à entidade introduzir ovos orgânicos na sua carteira de produtos, o seu primeiro negócio com proteína animal. “Aproveitaremos os subprodutos do beneficiamento do arroz, como farelo, casca e arroz quebrado para fabricar ração para as galinhas que produzirão nossos ovos”, diz o executivo da Coperav. A cooperativa também prevê economizar perto de R$ 100 mil gastos anualmente com a terceirização do beneficiamento.

Conjuntamente com outros assentamentos da reforma agrária, a Coperav iniciou em 2004 a produção do primeiro arroz certificado como orgânico no Rio Grande do Sul. Maior assentamento do Movimento dos Sem Terra (MST) no território gaúcho, com 9.478 hectares e 376 famílias, o Filhos de Sepé é uma importante referência da agroecologia no Brasil. Atualmente, o MST é reconhecido pelo Instituto Rio Grandense de Arroz (Irga) como o maior produtor de arroz orgânico da América Latina.

A cooperativa comercializa dezenas de produtos orgânicos entre hortaliças, cereais, frutas e itens de sua padaria. Só de arroz orgânico, são produzidas anualmente 30 mil sacas. “Conseguimos quebrar o paradigma de que não seria possível produzir arroz orgânico em larga escala”, comemora Zang. O faturamento da Coperav alcançou R$ 4 milhões em 2019, mas deverá sofrer forte retração este ano.

Sem o mercado da merenda escolar, a Coperav iniciou em julho a venda on-line para entrega a domicílio, que tem se mostrado mais promissora até mesmo do que as cinco feiras em que a cooperativa vende seus produtos na capital gaúcha. “Na entrega a domicílio, a compra é programada, não sobra produto, como nas feiras”, conta o diretor comercial da entidade.

Crédito e assistência para o desenvolvimento do negócio

Para além do financiamento, a linha de crédito emergencial do Fundo Conexsus também oferece o acompanhamento da gestão administrativa e financeira dos negócios comunitários de impacto socioambiental, entre eles a Coperav.

“As organizações que estiverem mais fortalecidas institucionalmente serão capazes de se recuperar mais facilmente dos efeitos da crise gerada pela pandemia da Covid-19”, diz Cecília Simões, especialista da equipe da Conexsus.

Ao final do ciclo da assessoria, a Conexsus espera que a organização esteja com a documentação em ordem, a gestão financeira e contábil regulares e tenha adotado boas práticas de governança com seus associados, incluindo transparência na tomada de decisões, aprovação de projetos e prestação de contas.

“Cada organização construirá um Plano de Desenvolvimento Organizacional, que conterá objetivos voltados ao fortalecimento da gestão da entidade em diferentes áreas, a fim de torná-la, ao final do processo, mais apta para acessar o Pronaf e outros canais de comercialização”, explica Pedro Frizo, da equipe da Conexsus.