CX na Mídia | Ativando negócios comunitários

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Há alguns meses ouvi pela primeira vez o termo “negócios comunitários” e venho desde então querendo entender melhor a ideia. Quando perguntei para Carina Pimenta, diretora executiva da Conexsus, como o termo foi cunhado, ela sorriu e então completou, “foi o resultado de um longo debate.”

Carina é co-fundadora da Conexsus, uma organização sem fins lucrativos que busca aumentar a renda dos pequenos produtores e fortalecer a conservação dos ecossistemas naturais. Para atingir esses objetivos, atuam diretamente com cooperativas e associações, procurando enfatizar que esses empreendimentos, por terem uma atuação econômica, são também um negócio. Daí a ideia de “negócios comunitários”.

Durante a entrevista, Carina contou de uma das atividades realizadas com lideranças desses empreendimentos antes da pandemia. Nela, os participantes se distribuíam em uma sala, movendo-se de acordo com a sua opinião sobre um determinado tema. Quando perguntados sobre o maior desafio enfrentado por seus negócios, a maior parte das pessoas se aglomerou em um dos cantos da sala, onde se lia a palavra “comercialização”.

A atividade revelou, por um lado, a percepção que essas lideranças tinham de um aspecto fundamental dos negócios: a demanda. Por outro, segundo Carina, ela enfatiza a falta de importância atribuída ao aspecto financeiro dos empreendimentos, traduzida em um canto vazio do outro lado da sala. De acordo com ela, contudo, esse é o aspecto central para uma virada de chave nos negócios.

A dificuldade é que existem poucos veículos financeiros adequados à realidade dos negócios comunitários em seus diferentes estágios de desenvolvimento. Assim, facilitar o acesso a eles é uma das três estratégias da Conexsus, ao lado de contribuir para o acesso aos mercados e modelagem dos negócios.

Além de gerar renda para os produtores, esses negócios contribuem para questões socioambientais. Nesse sentido, Carina comenta que “tudo bem os produtos custarem mais caro; afinal, eles são baseados em serviços ecossistêmicos”. Ou seja, ao adquiri-los não estamos comprando somente uma castanha ou um chocolate, mas uma floresta em pé, água e ar mais limpos. A questão com o preço, segundo Carina, é a transparência: “precisa estar claro o que é esse adicional do produto e para onde está indo.”

Em apenas três anos de operações, a Conexsus mapeou mais de mil negócios comunitários, que envolvem mais de cem mil associados e cooperados, tendo disponibilizado R$ 9 milhões em seu fundo socioambiental, além de ter dado suporte à efetivação de R$ 4,6 milhões em crédito rural via bancos públicos. Para os próximos anos, certamente mais contribuições virão para o ecossistema dos negócios comunitários.

Texto publicado originalmente em novembro de 2021, na coluna de Tomas Rosenfeld, na plataforma ECOA, do UOL.