Artigo publicado originalmente em Globo Rural.
Por Fernando Moretti e Renan Matias
A Amazônia enfrenta desafios estruturais quando o assunto é desenvolvimento sustentável. Segundo levantamento da Conexsus, com dados do Banco Central do Brasil de 2023, 94,5% do crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) na Amazônia foi destinado à pecuária convencional.
Isto reflete a um desequilíbrio do financiamento de práticas produtivas que mantêm a floresta em pé e que precisa ser corrigido para alinhar incentivos públicos às metas climáticas, fortalecimento da sociobioeconomia e melhoria da qualidade de vida.
O Pronaf financia e estimula tecnologias de produção sustentáveis, como o manejo de mínimo impacto de açaizais nativos desenvolvido pela Embrapa, Sistemas Agroflorestais (SAFs) e restauração produtiva. Essas práticas impactam o desenvolvimento da sociobioeconomia, como modelo adaptativo e de mitigação das mudanças climáticas.
Mais que um programa de crédito, o Pronaf é estratégico para transformar a realidade da Amazônia e promover um modelo sustentável de desenvolvimento.
O Plano Safra 2024/2025 apresenta avanços significativos para a sociobioeconomia. Com R$ 76 bilhões destinados ao Pronaf e redução de juros em diversas linhas de crédito, o plano tem potencial para fomentar a produção sustentável e promover a inclusão socioeconômica da agricultura familiar, povos e comunidades tradicionais.
Mas para que se concretize, é necessário estratégias e iniciativas que integrem conservação ambiental, equidade social e inovação, com assistência técnica e arranjos para emissão e atualização documental.
Práticas como o manejo de mínimo impacto de açaizais nativos, os SAFs e a restauração produtiva são pilares para a sustentabilidade. Integram produção, conservação, restauração e geram impacto econômico, social, cultural, organizacional e ambiental.
Essas práticas são exemplos que fortalecem os meios de vida das populações rurais e florestais, voltadas à adaptação às mudanças do clima.
Para que o Pronaf cumpra seu papel, é preciso que governos e bancos públicos assumam um papel ativo como agentes de desenvolvimento. Isso exige o estabelecimento de metas inteligentes, com percentuais mínimos de recursos destinados obrigatoriamente às cadeias da sociobioeconomia.
Além disso, o aumento dos valores para investimento na assistência técnica, bônus de originação e adimplência na Amazônia é essencial no alcance de comunidades em regiões mais remotas.
As instituições financeiras devem liderar essa transição, estruturando políticas que incentivem a produção sustentável e priorizem o fortalecimento de negócios comunitários.
A realização da COP30 em Belém coloca o Brasil no centro da discussão sobre desenvolvimento sustentável. A integração da produção sustentável e o fortalecimento da sociobioeconomia são oportunidades para mostrar ao mundo que é possível conciliar crescimento econômico, inclusão social e preservação ambiental, com respeito aos aspectos culturais e organizacionais.
Com potencial para movimentar R$ 1,8 trilhão por ano e gerar dois milhões de empregos diretos, a sociobioeconomia é a chave para transformar a Amazônia em um exemplo global de desenvolvimento. Mas isso só é possível com compromisso político, investimento contínuo e implementação de estratégias eficientes.
O Pronaf é mais que um programa de crédito, é uma ferramenta estratégica para financiar tecnologias, desenvolver cadeias produtivas que mantêm a floresta em pé e melhorar o IDH da região Amazônica. Investir em sociobioeconomia e práticas sustentáveis não é apenas uma responsabilidade ambiental, mas também uma oportunidade de transformar a realidade do Brasil no fortalecimento dos sistemas produtivos.
Com o Plano Safra 2024/2025 e a COP30, temos a chance de reposicionar o país como líder global em sustentabilidade. Que essa seja a oportunidade de transformar discurso em prática e construir um futuro mais justo e equilibrado para todos.