CX na Mídia – Projeto ajuda a destravar R$ 3 mi do Pronaf para extrativistas na Amazônia

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A partir da capacitação de jovens da própria comunidade, grupo usa finança de proximidade para auxiliar produtores no acesso a programas de crédito público

Notícia publicada originalmente em Globo Rural.

Informalidade e falta de assistência técnica são os principais impeditivos de acesso ao crédito rural por extrativistas na região Amazônica Divulgação/Fundo JBS Amazônia

Um velho problema da política agrícola brasileira, a dificuldade de acesso de pequenos agricultores às linhas oficiais de crédito rural, sobretudo do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), tem sido contornada por produtores da Ilha do Marajó, no Pará, graças ao esforço de jovens da própria comunidade.

Formados em escolas agrícolas da região de nível médio e técnico, eles têm recebido treinamento para atuar como ativadores de crédito, viabilizando a contratação dos recursos junto ao Banco da Amazônia.

Ao todo, R$ 3 milhões em recursos do Plano Safra já foram disponibilizados para 400 famílias extrativistas em 18 meses de projeto, permitindo aumentar em até 50% a produtividade na coleta de frutos nativos, sobretudo açaí, castanha e bacuri.

“Esse recurso pode parecer pouco para a nossa realidade de logística e as despesas que existem, mas foi um recurso que veio ajudar muito a ampliar as unidades produtivas e compreender melhor o que é manejo, fazer aplicação, plantio”, explica a diretora presidente da cooperativa Maneja Aí, Gracionice Costa da Silva Correa.

A organização, sediada em Portel (MA), foi uma das beneficiadas pelo trabalho dos ativadores de crédito treinados para auxiliar as famílias na tomada de crédito subsidiado do Pronaf B, com taxas de de juros de 0,5% ao ano e prazo para pagamento de até dois anos.

“A principal dificuldade para acessar o crédito é que a maioria dessas famílias nunca teve nenhum relacionamento com banco ou mesmo tomou alguma vez o crédito. Para 90% delas é a primeira vez que a gente trabalha. Além disso, 60% desse público não tem o CAR ou tem algum problema nele, geralmente sobreposição. E o terceiro problema é o próprio acesso à declaração de aptidão ao Pronaf, que apesar de ter melhorado bastante, ainda é um impeditivo muito grande para esses produtores terem acesso ao crédito” explica o coordenador da Rede de Ativadores de Crédito Socioambiental do Instituto Conexsus, Fernando Moretti.

Treinamento

Partiu da instituição a iniciativa de treinar jovens da própria comunidade para destravar a contratação de recursos do Pronaf e auxiliar na regularização da documentação necessária para tal. Se até o ano passado 70% das famílias não possuíam a DAP, este ano o percentual caiu para 50%, segundo Moretti.

“O termo que a gente utiliza é finança de proximidade. São pessoas do próprio território, o que ajuda também a gerar confiança. A gente oferece mentoria, suporte, formação, capacitação e acompanhamento e a parte de documentação a gente corre atrás junto a parceiros locais para poder operacionalizar”, detalha o coordenador da Rede, que hoje conta com 38 ativadores de crédito.

Nos primeiros 18 meses de projeto, esses jovens recebem uma bolsa de R$ 500 até que passem a receber bonificações por adimplência dos contratos fechados junto a comunidade.

Diferente de outros modelos de ativação de crédito, eles ficam responsáveis por acompanhar as famílias do início ao fim, oferecendo assistência técnica e financeira. Os recursos vêm de financiadores privados, a maior parte do Fundo JBS Amazônia, que aplicou R$ 1,5 milhão no projeto.

“A maior parte do Pronaf na Amazônia vai para compra de gado, mesmo que seja para agricultura familiar. E nesse caso não são culturas que o banco conhece tão bem. Então a Conexsus ajuda o banco a entender melhor o que são essas atividades, época da colheita e o que precisa para um bom manejo”, comenta a diretora do Fundo JBS Amazônia, Andrea Azevedo.

Pouco mais de um ano e meio após o início do projeto, a diretora presidente da Maneja Aí conta que as mudanças são visíveis na comunidade, com compra de maquinário e equipamentos que otimizaram o trabalho no extrativismo de açaí e outras frutas nativas da Amazônia.

Com mais produtividade e a formalização da atividade, a comunidade tem conseguido atender a programas de compra institucional como o Programa de Aquisição de Alimentos e de Alimentação Escolar, garantindo também uma melhor comercialização dos produtos.

“Antes os créditos eram trabalhados de uma forma não orientada e muito em época de ano eleitoral. Então acabava que beneficiava a empresa de assistência técnica, que fazia os projetos sem muitos critérios, o que levou o município a inadimplência porque não tinha orientação, nem educação financeira para e ter de fato uma produção que pudesse dar retorno a pagar o financiamento”, recorda Gracionice.

“Hoje, com essa parceria, isso facilitou porque o banco vem pra dentro da comunidade o que permitiu alcançar as famílias mais isoladas”, completa a diretora presidente da cooperativa.