Das margens do rio Canaticu para o mundo

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Quase 100% da produção de açaí realizada pela Cooperativa Sementes do Marajó é exportada para diversos países

O estado do Pará é o maior produtor brasileiro de açaí, respondendo por cerca de 90% da produção nacional. No município de Curralinho, localizado na ilha de Marajó, o fruto é a principal fonte de renda familiar para a população local. É tão marcante que foi criado um evento para demonstrar sua importância: o Festival do Açaí.

Miss açaí, competição para ver quem toma mais açaí, prova de subir rápido na palmeira e coletar a maior quantidade do fruto são apenas algumas das atrações do Festival, que acontece todos os anos. O evento recebe visitantes de cidades vizinhas e de outros estados, oferecendo comidas típicas, valorizando as tradições e contribuindo para o manejo sustentável do açaí e a manutenção da floresta em pé.

Curralinho também abriga a Cooperativa de Ribeirinhos e Extrativistas Agroindustrial do Marajó Ltda – Sementes do Marajó, criada em 2014. Ela reúne 103 ribeirinhos cadastrados e se tornou um importante instrumento na comercialização do açaí, melhorando os preços pagos aos extrativistas.

Em sete anos de existência, a parceria com a Conexsus foi fundamental para que a cooperativa pudesse se organizar e conseguir caminhar com as próprias pernas, como esclarece o presidente da entidade, Carlos Baratinha. “O papel da Conexsus como parceiro e facilitador abriu portas para a cooperativa, fazendo com que a gente crescesse muito como instituição”.

Oferecendo suporte e orientação técnica, a Conexsus capacitou a cooperativa para organizar sua produção, melhorar os processos, além de promover a articulação de parcerias com instituições e governo. Uma das principais iniciativas da cooperativa foi criar portos de embarque, onde um coordenador fica responsável pelo recebimento da produção de cada cooperado, além de fazer a pesagem e conferir a qualidade da produção.

A rotina nos açaizeiros

O trabalho de coleta começa cedo, com os ribeirinhos saindo para os açaizeiros muitas vezes antes do nascer do sol. Munidos de facão para cortar os cachos a cerca de 10 metros de altura, os peconheiros precisam aproveitar o período da manhã, enquanto o sol não está muito forte e ainda é possível subir nas palmeiras. A temperatura média na região é superior a 30 graus Celsius e mesmo com o uso das peconhas, uma espécie de suporte para os pés feito com as folhas do açaí para auxiliar na escalada das palmeiras – com o calor muito forte, os troncos esquentam muito.

A atividade exige bastante esforço físico. Com a prática, o tempo médio para subir na árvore chega a 4 minutos e os coletores muitas vezes saltam para outra palmeira da mesma touceira sem descer ao solo. Uma touceira do açaí tem cerca de 5 palmeiras. Cada homem consegue coletar até 140 quilos de açaí por dia, mas para ter essa produção é necessário subir cerca de 20 vezes. Enquanto os homens cortam os cachos, as mulheres fazem a debulha dos frutos e colocam nos cestos.

A safra do açaí acontece entre os meses de agosto e dezembro e a coleta é realizada ao longo do rio Canaticu, com 50 quilômetros de extensão, que também é a principal rota para o transporte do fruto. De lancha voadeira são necessárias três horas para percorrer toda a extensão do rio. A palmeira do açaí é típica de região de várzea, onde o solo é mais úmido, às vezes, até alagado.

A parceria com a Conexsus, que em anos anteriores já deu bons resultados, em 2020 deu fôlego para que a Cooperativa pudesse enfrentar os impactos e restrições provocados pela crise do coronavírus. A linha emergencial ofereceu capacitação para gestão e apresentou oportunidades, além de recursos para o conserto de um barco. “Graças às orientações, conseguimos estimar uma safra para 2021 cerca de 5 vezes maior à safra de 2020”, esclarece Carlos Baratinha. Enquanto em 2020 foram comercializadas 112 mil toneladas de açaí em natura, a expectativa para 2021 é atingir 600 mil toneladas.

Cerca de 98% da produção de açaí da Sementes do Marajá é entregue para indústrias que fazem a exportação em forma de polpa, creme e pó. O restante é destinado a editais públicos para o fornecimento do alimento em escolas, creches e hospitais.

Linha de Crédito

Oferta de crédito adequada ao contexto das cooperativas e associações, a linha de
crédito emergencial faz parte do Plano de Resposta Socioambiental à Covid-19, programa
criado em abril de 2020 pela Conexsus para reduzir os impactos da crise provocada pela
pandemia nas organizações comunitárias de produção rural e florestal em todo o Brasil.

O Plano foi construído em parceria com a UNICAFES (União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária), o CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas) e o Fundo Vale. E conta com o apoio da rede de supermercados Pão de Açúcar, por meio do Instituto GPA, da Fundação Arymax, Fundação Good Energies,
CLUA, Instituto Humanize, B3, USAID, NPI Expand, por meio da Palladium, PPA e
SITAWI.

Os financiamentos, realizados até dezembro de 2020, beneficiaram 82 negócios
comunitários de impacto socioambiental, com o desembolso de mais de R$ 6,4 milhões –
alcançando 15,3 mil produtores familiares em mais de 33,4 mil hectares. As principais
cadeias beneficiadas pela linha foram as do açaí, castanha, cacau, hortifrúti e polpas de
frutas.