Cooperativas e associações de produtores da Região Sudeste participaram da segunda Oficina de Negócios Comunitários Sustentáveis
São Paulo recebeu, nos dias 7 e 8 de agosto, a segunda Oficina de Negócios Comunitários Sustentáveis do Desafio Conexsus. Representantes de 20 cooperativas e associações da Região Sudeste do país, formadas por agricultores familiares, quilombolas, pescadores, indígenas e extrativistas estiveram presentes. A atividade faz parte de um ciclo de oficinas que teve início em junho, em Belém (PA), e deve ser replicada em mais 12 cidades até o final de setembro.
A programação foi guiada pela busca de soluções para os principais desafios que os negócios comunitários sustentáveis enfrentam: desenvolver modelos de negócios rentáveis; ampliar a comercialização e o acesso a mercados; ampliar o acesso a crédito e a outras soluções financeiras. “Queremos conhecer melhor estes empreendimentos, saber quais são seus desafios e, a partir destes encontros, também formar uma rede de negócios comunitários e organizações apoiadoras que possa gerar oportunidades de amadurecimento e de desenvolvimento. Esse é o ecossistema de promoção para os negócios com este perfil”, explicou a diretora de operações da Conexsus, Carina Pimenta.
O coordenador técnico do Instituto para o Desenvolvimento Sustentável e Cidadania do Vale do Ribeira (Idesc), Ronaldo Ribeiro, destacou que é importante este contato direto com as cooperativas e organizações parceiras. “Estamos conhecendo melhor as experiências locais e os desafios destas organizações de agricultores, uma oportunidade muito boa de saber de perto quais dificuldades eles têm para pensarmos como podemos colaborar nesse Desafio”, disse.
Para o representante da Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados e Pequenos Produtores da Região Noroeste do Estado de São Paulo (Coapar), Lourival Plácido de Paula, a troca de experiências entre os participantes foi fundamental. “Foi um espaço que aglutinou conhecimento coletivo sobre a cooperação e várias formas de negócios e de experiências. Conversei com organizações que estão desenvolvendo atividades nas mesmas áreas que nós, com foco na produção de leite agroecológico, por exemplo. Na área comercial, embora alguns tenham mais experiência, percebo que todos estamos no mesmo barco, precisando expandir para o mercado tradicional”, avaliou.A representante da Associação de Remanescentes de Quilombolas do Espírito Santo, Katia Penha, do município de São Mateus, disse que planeja fomentar as parcerias que foram iniciadas no evento e levar as experiências de outras cooperativas para as comunidades quilombolas. “Nossa associação tem 30 anos, mas só recentemente começamos a trabalhar o processo da venda sem atravessadores. Somos agricultores familiares, temos a agroecologia como nosso foco, respeitando a biodiversidade que existe no território, preservando as nascentes, nossas matas e tradições culturais ancestrais. Precisamos fortalecer essa rede para que esses agricultores garantam seu desenvolvimento”, comentou.
Modelos de negócios comunitários
“Onde nós queremos chegar? Quais são os resultados que as nossas organizações querem ter? Muitas vezes é preciso fazer esse exercício de olhar para fora e depois para dentro, nos questionar, para sair um pouco da visão operacional, para tentar entender o momento que estamos passando, o que estamos fazendo e como estamos fazendo”, – provocou a diretora da Conexsus, durante a primeiro dia de atividades.
Os participantes foram convidados a refletir sobre como operam seus negócios, quais competências e recursos têm disponíveis e quais valores e resultados geram. “São muitos os modelos de negócios, mas o mais importante é que o que for escolhido ajude a revelar os valores da organização e das pessoas envolvidas, o que ela tem de diferencial, como e com quem se relaciona, e como isso gera valor econômico e valor para a sociedade”, explicou.
Depois, a representante da Cooperativa dos Produtores de Café Especial de Boa Esperança, Caroline Reis, compartilhou com os participantes a trajetória do seu negócio. “Essa cooperativa tem uma história muito bonita, porque esse café é feito de sonhos e a história destes produtores é a minha história pessoal também. Nós começamos em 1989, com uma associação de 22 produtores da região da Serra da Boa Esperança”, contou.
Hoje a cooperativa agrega 196 produtores e produz café orgânico tipo exportação, com certificação Fair Trade. O negócio é composto, além da cooperativa, pela franquia de cafeterias Xícara da Silva e a linha Café Sustentável Costas 5588. “Nós temos todo um trabalho de conscientização com o produtor e o nosso diferencial é a qualidade. Mas nossa dificuldade ainda é entrar no mercado tradicional nacional”, concluiu.
Comercialização e mercados
No segundo dia, a agenda da manhã foi voltada aos desafios de comercialização e de acesso a mercados. A programação começou com a palestra sobre tendências do mercado de alimentação saudável e sustentável, ministrada pelo gerente comercial do Pão de Açúcar, empresa do GPA, Eduardo Finelli que, por meio do Instituto GPA, é parceiro estratégico da Conexsus. Segundo Finelli, o Brasil é um dos países que mais cresce no mercado de alimentos saudáveis no mundo hoje.
Dados do Euromonitor Internacional 2017 revelam que nos últimos cinco anos as vendas de produtos saudáveis avançaram a uma taxa média de 12,3% ao ano, enquanto o resto do mundo avançou 8% em média. “Nós precisamos nos adaptar constantemente às tendências e às demandas do consumidor, nos aspectos relacionados aos produtos, aos serviços e à linguagem que mais se adequa a essas mudanças”, também destacou o gerente.
Na sequência, o consultor da Conexsus, Gustavo Assis, falou sobre mercados públicos e compras institucionais. “Algumas modalidades estão morrendo, mas outras estão em expansão. Esta é uma demanda da sociedade, então é importante lutarmos pela manutenção de políticas públicas relacionadas à agricultura familiar”, disse. Alguns dos desafios mais importantes, segundo o consultor, são ampliar a inclusão de produtos da sociobiodiversidade e da agricultura familiar nos programas, bem como conciliar as ofertas e demandas sazonais.
Para inspirar um olhar para a construção de mercados alternativos, a representante da Cooperativa da Agricultura Familiar de Cachoeiro de Itapemirim (CAF Cachoeiro), Maristela Coelho Lamon, foi convidada a compartilhar a experiência do Programa Tíquete Feira, realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento de Cachoeiro de Itapemirim (ES). “Três mil servidores públicos da prefeitura, que recebem salário de até R$1.500,00, recebem um tíquete de R$15,00 semanal para comprar produtos da agricultura familiar em uma feira livre da cidade, com produtos da agricultura familiar”, explicou.
Crédito e instrumentos financeiros alternativos
Pequenos negócios, cooperativas e associações de produtores geralmente enfrentam muitas dificuldades para conseguir acesso a crédito e a investimentos. O consultor da Conexsus, especialista em crédito agrário, João Luiz Guadagnin, falou sobre o sistema financeiro formal, modalidades de crédito e outras informações relacionadas, voltadas para organizações comunitárias.
“É necessário que haja aproximação com os agentes financeiros, é preciso mostrar que quem está do outro lado é um negócio diferenciado, que gera renda para diversas famílias, que tem a preocupação com a preservação do meio ambiente e que promove o desenvolvimento social e econômico da região”, aconselhou.
Os participantes também falaram sobre instrumentos financeiros alternativos, como fundos garantidores, fundos rotativos e outras possibilidades para que recursos financeiros possam chegar a este tipo de negócios, de forma adequada e de acordo com as necessidades que eles têm, conforme seus estágios de desenvolvimento.
Durante os dois dias de evento, uma hora da programação foi reservada para a “Cesta de Oportunidades”, momento em que os participantes puderam expor seus produtos e trazer informações mais detalhadas sobre sua atuação. Também foram realizadas entrevistas com a equipe técnica da Conexsus.
Desafio Conexsus 2018
A oficina será replicada mais 11 vezes, em diversas regiões do Brasil, além da realização de visitas técnicas, que devem abranger cerca de 300 organizações entre as mais de mil já mapeadas pelo Desafio. Uma das expectativas é que esta comunidade, formada pelos empreendimentos cadastrados e os parceiros cocriadores da iniciativa, torne-se uma rede ativa de fomento ao desenvolvimento sustentável, com a possibilidade de atrair e criar outras oportunidades além das já previstas no Desafio Conexsus 2018.
Os negócios cadastrados compõem o Mapa e o Panorama de Negócios Comunitários Sustentáveis no Brasil, com consulta online e aberta ao público pelo site www.desafioconexsus.org. Após a realização das oficinas regionais, 70 organizações serão convidadas a participar do Ciclo de Desenvolvimento de Negócios Comunitários Sustentáveis, que conta com uma jornada de aceleração, oficinas de modelagem de negócios, laboratório de soluções de acesso à comercialização e mercados e vlaboratório de crédito e soluções financeiras.
Participaram deste evento em São Paulo os parceiros Grupo Pão de Açúcar, por meio do Instituto GPA, Idesc – Instituto para o Desenvolvimento Sustentável e Cidadania do Vale do Ribeira e Instituto Terroá. A Entrenós Planejamento Estratégico realizou a mediação da oficina. Também esteve presente um representante da Unisol Brasil: Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários/ AMATER – Cooperativa de Trabalho, Assistência Técnica, Extensão Rural e Meio Ambiente.
Participaram as organizações:
São parceiros estratégicos da Conexsus: Good Energies Foundation, Grupo Pão de Açúcar, por meio do Instituto GPA, IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e Moore Foundation, Fundo Amazônia, Fundo Vale, Fundação Certi, GIZ /Cooperação Alemã para o desenvolvimento sustentável, Climate and Land Use Alliance (CLUA) e União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes).
São parceiros cocriadores do Desafio Conexsus: Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense (APACO), Central da Caatinga, Central do Cerrado, Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas (Confrem), Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Coomafitt, Ecoa – Ecologia e Ação, Entrenós Planejamento Estratégico, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS), Instituto BioSistêmico (IBS), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Centro de Vida (ICV), Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável (IDESAM), Instituto para o Desenvolvimento Sustentável e Cidadania do Vale do Ribeira (IDESC), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Instituto Gaia, Instituto Peabiru, Instituto Terroá, Instituto Socioambiental (ISA), IPAM Amazônia, Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Pacto das Águas, Sentinelas da Floresta, SOS Amazônia e Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).
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Créditos: Flavio Mayerhofer