FAO promove 15 dias de campanha em defesa dos direitos das trabalhadoras rurais brasileiras

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O site da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicará nas próximas duas semanas uma série de reportagens que fazem parte da Campanha Regional pela Plena Autonomia das Mulheres Rurais e Indígenas da América Latina e do Caribe – 2018.

Serão 15 dias de ativismo em prol das trabalhadoras rurais que, de acordo com o censo demográfico mais recente, são responsáveis pela renda de 42,2% das famílias do campo no Brasil.

Na primeira reportagem da série, a FAO conta a história de Maria Emília Campos. Moradora da Zona da Mata mineira, ela estudou agronomia e teve dificuldades para se inserir em um mercado de trabalho amplamente dominado por homens. Leia a reportagem completa:

 

Os papéis desempenhados pelas mulheres rurais são tão numerosos quanto suas lutas e vitórias. O que não faltam são histórias de vida inspiradoras. No entanto, elas ainda não têm o reconhecimento merecido.

As mulheres rurais ainda sofrem com o preconceito e a desigualdade de gênero. Há um longo caminho para o equilíbrio de direitos e oportunidades entre homens e mulheres. A fim de mostrar que equidade de gênero e respeito são valores necessários cotidianamente, as Nações Unidas adotaram 2018 como o Ano da Mulher Rural.

Nesse cenário, a partir de segunda-feira (1), o site da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicará uma série de reportagens que fazem parte da Campanha Regional pela Plena Autonomia das Mulheres Rurais e Indígenas da América Latina e do Caribe – 2018.

Serão 15 dias de ativismo em prol das trabalhadoras rurais que, de acordo com o censo demográfico mais recente, são responsáveis pela renda de 42,2% das famílias do campo no Brasil.

Na Zona da Mata mineira, na cidade de Cajuri, a 245 km da capital do estado, Maria Emília Campos, de 34 anos, é exemplo na batalha pela autonomia plena das mulheres rurais.

Sua luta começou em 2005, na escolha do que estudar na faculdade: agronomia. De malas prontas, a filha de agricultores partiu para a cidade com o desejo de realizar um sonho.

Ao chegar, a realidade foi outra. Em um ambiente de ensino majoritariamente ocupado por homens, Maria aguentou diversos comentários, vindos de outros alunos, que colocavam em dúvida a sua capacidade. “Cheguei a ouvir até mesmo de professores piadas de que mulher tinha medo de sujar as unhas de terra. Nunca pensei ter que passar por esse tipo de situação em pleno século 21″, declarou.

Após cinco anos de estudos e esforços, o momento da graduação chegou. A preocupação de passar em provas e apresentar trabalhos deu lugar à vontade de se inserir no mercado de trabalho.

“Enviava currículos e não era selecionada. Uma vez, cheguei a passar no processo seletivo e na hora da contratação ouvi do chefe que eles preferiam contratar um homem”, declarou Maria.

Dois anos se passaram e a procura por emprego se tornava cada dia mais difícil. Nesse período, a filha de agricultores adoeceu devido aos pensamentos de não ser boa o suficiente para desempenhar o que havia estudado.

Depois de tanto procurar, Maria Emília se deu conta de que o emprego sempre esteve mais perto do que imaginava. Ela voltou para o campo decidida a aplicar os ensinamentos da faculdade na propriedade de seu pai.

Mesmo em casa, percebeu que não seria tão simples quanto imaginava. “Sei que há décadas existe uma preocupação com relação ao empoderamento, mas existe algo que acompanha a nossa história, que talvez esteja evoluindo aos poucos, que é a cultura. E na minha vida, eu trabalho justamente com essa mudança, porque somos parte de uma cultura machista que nos fragiliza e nos vitimiza”.

Logo que voltou para a cidade natal, foi convidada para estar à frente da Secretaria Municipal de Assistência Social do município. Maria Emília teve contato com várias histórias que mudavam apenas de nome e sobrenome.

“Tive contato com vários tipos de discriminação contra a mulher, abusos, desvalorização, menosprezo, baixa autoestima. O que me chamava atenção era que essas mulheres não nasceram se sentindo assim, elas aprenderam a ser assim. E a partir daí, passei a prestar mais atenção na questão de gênero. Apesar do meu curto período na secretaria, ele serviu de aprendizado para minha vida.”

Ao analisar a vida das mulheres que conheceu, Maria criou a coragem para assumir a própria propriedade e andar sozinha. Em um sítio cedido pelo pai, ela começou a plantação de flores.

Toda quinta-feira é sagrada. Ao primeiro sinal do raiar do sol, Maria Emília desperta tendo o campo como destino. É dia de fazer a colheita das flores cultivadas com tanto carinho. Hoje, além de todo o trabalho desenvolvido no campo, participa de um grupo de 16 produtores de flores e segue na luta para que todas as mulheres tenham autonomia plena.

Fonte: FAO