Formação de multiplicadores da Técnica de Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos fortalece articulação dos negócios comunitários em Afuá (PA)

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A iniciativa teve como objetivo ampliar o desenvolvimento de capacidades locais, com formação de multiplicadores e facilitadores da tecnologia de manejo, vinculados aos negócios da sociobiodiversidade.

 

Fotos: Conexus/Juce Rocha e Renan Matias



“A ideia da oficina é formar multiplicadores locais, que vão replicar essas técnicas nas comunidades. O objetivo é fomentar o aumento da produtividade, a conservação e restauração da floresta, a redução da penosidade do trabalho e produção de açaí ao longo de todo ano. Este momento está inserido no processo de formação dos Ativadores de Crédito para replicar e ampliar as boas práticas de manejo com soluções financeiras ativas, além do processo vinculado a modelagem de Negócios Comunitários, com foco na organização para vendas coletivas”, destaca Renan Matias, coordenador de projetos do Núcleo de Crédito Socioambiental da Conexsus.

“O açaí é muito importante para a alimentação das famílias, tanto para o consumo, como para a nossa renda. A oficina veio reforçar a necessidade de manejo. Isso é fundamental porque vamos melhorar a produção e a conservação da floresta. Vai ser de suma importância levar para a comunidade, para ajudar muitas famílias que ainda estão fazendo um manejo desordenado, vai ajudar muito para termos a melhor qualidade do nosso açaí”, afirma Josilene Nunes, moradora da comunidade Nossa Senhora das Graças, do Assentamento Ilha do Maracujá, Afuá (PA). Ela será uma das multiplicadoras da técnica de Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos no território. 

 

Ao centro, Josilene Nunes, moradora da comunidade Nossa Senhora das Graças, do Assentamento Ilha do Maracujá, Afuá (PA) recebe o certificado da oficina. Ela será uma das multiplicadoras da técnica de Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos.

 

O Manejo de Mínimo Impacto de Açaizais Nativos é uma tecnologia desenvolvida pela Embrapa para conciliar a produção de frutos e a conservação das florestas de várzea do estuário (ambiente aquático de transição entre o rio e o mar) amazônico. “O principal objetivo dessa tecnologia é aumentar a produção de açaí e manter a diversidade da área do estuário. Consiste em estabelecer uma quantidade adequada de açaízeiros ― 400 touceiras por hectare  ― e, junto com essas touceiras, mais 200 indivíduos das demais espécies nativas da floresta. Eles promovem a reciclagem dos nutrientes, alimentando os açaizeiros”, explica o engenheiro florestal da Embrapa Amazônia Oriental, responsável pelo desenvolvimento da técnica de Manejo de Mínimo Impacto em Açaizais Nativos,  José Antônio Leite de Queiroz.  

Rogério Moraes de Miranda, morador do Assentamento Ilha Queimada, Afuá, destaca que a partir da oficina, como multiplicador da técnica de manejo de mínimo impacto, vai levar esse conhecimento para outras comunidades da região. “O conhecimento desta oficina vai melhorar na questão da nossa produção, vamos aplicar em nossas propriedades e será muito proveitoso para nós ribeirinhos, que dependemos de tirar os recursos da natureza para nossa sobrevivência”.

O extrativista também destacou o uso da tecnologia para realizar o Manejo de Mínimo Impacto de forma mais assertiva, acompanhar a evolução da produtividade e futuramente organizar vendas coletivas. “Nós já fazíamos o manejo, mas aqui aprendemos a técnica de mínimo impacto, se antes a gente eliminava árvores sem muitos critérios, hoje sabemos exatamente quais e como retirar, quais deixar no meio do açaizal, mantendo a floresta, como plantar e, especialmente, como acompanhar a produção e essas árvores, com o uso da tecnologia, com o aplicativo Manejatech-açaí, que também aprendemos a usar no celular”.

A formação dos Ativadores de Crédito em técnicas sustentáveis, como a do manejo de mínimo impacto, é uma das prioridades do programa CrediAmbiental da Conexsus. “Isso fortalece os Ativadores em seu trabalho de orientação técnica, associado ao planejamento e uso eficiente do crédito rural para as cadeias da sociobioeconomia, além de atuarem como multiplicadores de tecnologias de ponta desenvolvidas por parceiros importantes como a Embrapa”, afirma Fernando Moretti, Líder do Núcleo de Crédito Socioambiental da Conexsus.

Durante a oficina o grupo recebeu todo material para a realização do manejo (foice, facão, prancheta, fita métrica, etc.), assim como equipamentos de segurança.

 

Tecnologia e manejo sustentável 

A programação da oficina contou com partilhas sobre a importância do Manejo de Mínimo Impacto, no contexto coletivo territorial e nos negócios comunitários da sociobiodiversidade, destacou a importância dos polinizadores, realizou na prática a demarcação da parcela demonstrativa de 2.500m² (50m x 50m), usando o Teorema de Pitágoras (triângulo), assim como o Inventário Florestal Simplificado e passou orientações para o uso do aplicativo Manejatech-açaí, tecnologia também desenvolvida pela Embrapa.

Além de orientar todo o manejo e registrar todo o histórico das áreas manejadas, o uso do aplicativo pelos ribeirinhos possibilitará a geração de informações sobre a biodiversidade no território. “Ao registrar as espécies presentes em cada parcela, durante a etapa de inventário, o usuário vai ter conhecimento sobre diversidade de plantas. Trata-se de uma informação preciosa, que poderá apoiar o acesso a novos mercados e a políticas públicas”, destaca o analista de sistemas da Embrapa, Michell Costa, responsável pelo desenvolvimento do aplicativo, que apresentou a tecnologia aos participantes da oficina. 

Com aplicativo desenvolvido pela Embrapa, ribeirinhos registram informações da parcela demonstrativa. A tecnologia indica a intervenção que deve ser feita na floresta para que os açaizais nativos produzam mais o ano todo.



Negócios da sociobiodiversidade 

“O açaí nativo é uma fonte vital de sustento para as comunidades e também para preservação da biodiversidade, no entanto, manejar essas áreas requer recurso financeiro e esse é um grande entrave. É aí que entra a Conexsus, a nossa Rede de Ativadores de Crédito Socioambiental. Junto com o Núcleo de Negócios Comunitários e Ecossistemas Regionais, que oferece assessoria, e com outros parceiros do próprio território, conseguimos oferecer orientação técnica sobre a produção sustentável  e também elaborar um projeto de crédito, para poder acessar o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ), por exemplo”, explica Paula Pannain, mentora da CrediAmbiental.

 

“O açaí é a principal fonte de renda de todas as comunidades ribeirinhas do município de Afuá. Nós do Sindicato criamos uma relação com a Conexsus que traz pra gente capacitações, novas visões para a melhoria da qualidade de vida do nosso povo, promove segurança alimentar e qualidade de nossa produção. Nosso objetivo é alcançar outras áreas que a gente nem pensava, como a questão da comercialização de sementes: mururu, ucuuba… aumentar a nossa esperança de diversificar a produção e crescer em vendas coletivas”, enfatiza o jovem Felipe Souza, que vive na comunidade Monte das Oliveiras, Assentamento Extrativista Ilha do Carás.

Volta do grupo ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadores Rurais de Afuá (STTR), Ilha do Meio, após prática de manejo de mínimo impacto em parcela florestal.

 

Os três dias de atividades em Afuá (PA), 26 a 28 de março de 2024, contaram com a participação de representantes de sete associações. A realização da atividade se deu em parceria com a Embrapa (Bem Diverso Sustenta & Inova), Emater-Pará e Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadores Rurais de Afuá (STTR), no contexto do Projeto Conexão Marajó, com apoio da Climate and Land Use Alliance (CLUA).

A próxima oficina acontece em São Sebastião da Boa Vista (PA), com a Cooperativa Agroextrativista da Veneza do Marajó (COPAVEM), de 7 a 9 de maio de 2024.