Após lançamento, Laboratório de Negócios Agroflorestais da Conexsus realiza oficina e acompanha primeiros plantios
O Lab SAF – Laboratório de Negócios Agroflorestais da Conexsus iniciou suas atividades com uma oficina que reuniu parceiros, especialistas, representantes de projetos demonstrativos em dezembro de 2018 e, de lá para cá, já acompanha os primeiros plantios. A proposta de implantar um laboratório visa impulsionar o desenvolvimento de negócios em um ambiente inovador, por meio da consolidação de modelos e da ampliação de áreas de SAFs (Sistemas Agroflorestais) que promovam a conservação das florestas, a produção sustentável o aumento de renda dos produtores – especialmente para agricultores familiares e extrativistas.
O Lab SAF conta com oito projetos demonstrativos, localizados em diferentes regiões brasileiras, em uma rede de cooperação técnica que irá compartilhar experiências e aprendizados, em busca de acelerar o desenvolvimento de novos negócios com esse perfil. Independentes e em variados estágios de desenvolvimento, cada um dos projetos reúne parceiros, tecnologias e perfis produtivos distintos, que envolvem desde o plantio de espécies nativas a produções como a agrosilvopastoril, pecuária sustentável, piscicultura, madeiras, fibras e tinturas para tecidos e para artesanato, entre outras. Três deles estão localizados na Amazônia. As estações ficam nos estados do Acre, Pará, Mato Grosso, São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina, Piauí e Rondônia.
O Projeto Demonstrativo SAF Carajás, instalado na Fazendo São Francisco, no município de Canaã dos Carajás (PA), foi o primeiro a iniciar os plantios, realizados entre janeiro e fevereiro de 2019. Com cinco módulos de dois hectares cada um, o objetivo é analisar quais modelos podem combinar melhor técnicas e espécies, para que possam ser utilizados como referência para serem replicados por pequenos agricultores. O que varia entre os módulos são as culturas plantadas e os espaçamentos entre elas.
Agricultores da região foram parceiros na implantação do projeto, com contribuições para a pesquisa e tecnologia utilizada em SAFs. Após essa etapa de plantio – que foi precedida pela preparação do solo, arado e incorporação de calcário para correção do pH – será realizada a manutenção da área e a colheita. Todo o manejo será manual. “Vamos colher para comercializar. Como manutenção, vemos onde está crescendo capim para roçar e também adubamos a terra para fortalecer as plantas”, conta o coordenador do projeto, Marcelo Aiub.
SAFs são uma forma de produzir alimentos de forma sustentável com respeito à biodiversidade, como detalha o engenheiro florestal Roberto Gonçalves, integrante da Conexsus. “Num SAF tudo é pensado para fazer com que as espécies se ajudem. No projeto demonstrativo SAF Carajás, por exemplo, as espécies florestais vão proporcionar o sombreamento do Cacau, que será plantado em dezembro de 2019, contribuindo para a geração de produtos florestais não-madeireiros”, explica.
Tudo o que está ali ou ainda vai estar tem uma função específica. O Ingá serve para sombrear e fornecer nitrogênio para as demais culturas; a bananeira e a macaxeira promovem sombra para o Cacau em seus primeiros anos de vida; o milho, a abóbora e o mamão geram receita nos primeiros meses de plantio; o Feijão Caupi e o amendoim também fornecem nitrogênio e trarão receita com a colheita nos primeiros três meses de cultivo.
Propostas do laboratório
Uma das metas mais ambiciosas com as quais o Brasil se comprometeu no Acordo de Paris, no contexto do esforço global de redução de emissões de CO2, é a restauração de 12 milhões de hectares de floresta – embora os meios para cumprir isso ainda sejam incertos. Nesse contexto, o laboratório é comprometido com a conservação das florestas, da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos a partir de três focos, como explica o diretor da Conexsus, Valmir Ortega. “Buscamos unir tecnologia florestal, novos modelos de investimento e arranjos sociais com organizações locais. A grande vantagem de um laboratório é que temos como objetivo principal testar e inovar. Junto a uma rede de parceiros diversos, vamos tentar reduzir os riscos, aproveitar o conhecimento já disponível e alertar sobre os problemas e dificuldades”.
Com inovação, realização de modelagens financeiras e compilação de referências técnicas e práticas de governança, o laboratório busca ampliar a visão de produtores e investidores sobre o potencial econômico dos SAFs, como detalha a diretora de operações do Fundo Vale, Patricia Daros. “Por serem testados em locais completamente diferentes do país, os labs têm um potencial incrível de trazer soluções adequadas a cada realidade. Testando e encontrando as melhores técnicas, modelos de negócios e investimentos, adequados às diferentes fases de maturidade dos empreendimentos, e em rede, poderemos dar uma contribuição imensa para esta agenda de diversidade brasileira”.
Para o sócio da Kaeté Investimentos, Luis Fernando Laranja, o momento é muito oportuno pelas metas de restauração de florestas que o Brasil assumiu. “Uma iniciativa que congrega um amplo conjunto de atores e vai ao encontro do desejo de empreendedores, financiadores, ONGs e governo de desenvolver arranjos baseados em SAFs, produtivos e economicamente viáveis, pode contribuir muito. Ordenar esse assunto, a partir do compartilhamento de experiências e estudos é fundamental”.
Enquanto gestora de fundos de investimentos, a Kaeté tem interesse especial no desenvolvimento de instrumentos financeiros inovadores nesse contexto. “Em geral, os sistemas agroflorestais exigem um tipo de capital mais ‘paciente’ dentre todas as atividades produtivas agropecuárias, porque têm um tempo de maturação maior, e por isso são necessários arranjos diferenciados”, observa.
Para o diretor da Fundação CERTI, Marcos Da Ré, a modelagem de negócios, as técnicas, as abordagens inovadoras no nível da gestão das áreas e das cadeias como um todo, o capital e mercados diversificados têm um papel importante para alcançar uma abordagem de inovação sistêmica. “Nos interessa contribuir, aprender e compartilhar todas essas diferentes perspectivas, para chegar a uma percepção do potencial da inovação de mudar realidades frente ao desafio da recuperação das florestas e também como alternativa de manutenção das comunidades no campo, com maior geração e distribuição de valor, associando o social e o econômico à conservação ambiental”.
Experiências acumuladas
O escritório de design, arquitetura e inovação Rosenbaum, junto ao Instituto A Gente Transforma, atuam no projeto demonstrativo do Piauí. A ação com artesãos locais começou em 2012, com a proposta de valorizar e reconhecer no mercado o saber gerado ancestralmente pela comunidade de Várzea Queimada. À frente do projeto, o designer Marcelo Rosenbaum conta que a comunidade manifestou interesse em instalar SAFs, foi promovido um curso sobre o tema e, agora, veio a participação no laboratório, com a implantação de SAFs para cultivo de Carnaúba, de alimentos para a comunidade e outros produtos que possam gerar inovação e ganhar mercado. “É uma honra fazer parte dessa rede de pessoas que estão olhando para o mesmo caminho em questões ambientais, sociais e de movimentação desse mercado, a partir do SAF como laboratório de práticas e um espaço enorme de aceleração. Fora dele, sem esse encontro de diversos atores, demoraríamos muito mais tempo para evoluir”, comenta Rosenbaum.
Outro módulo demonstrativo conta com a participação do Projeto RECA, em Rondônia, que acumula experiências com SAFs há 30 anos entre seus cooperados e vê no laboratório uma maneira de repensar alguns pontos e inovar. “Precisamos desenvolver modelos de arranjo que sejam mais atrativos para os agricultores que ainda não aplicam os SAFs. Mostrar as vantagens, valorizá-los e mostrar como isso impacta na preservação da floresta, por exemplo”, sugere Fábio Failatti, coordenador técnico do RECA.