Mobilização para reconhecimento de áreas de comunidades tradicionais é abordada durante oficina no Maranhão

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Engajamento dos participantes nas causas locais e busca por conhecimento e aperfeiçoamento chamaram a atenção durante atividades do Desafio Conexsus

Engajamento dos participantes chamou a atenção na oficina de São Luís.

Foi realizada nos dias 18 e 19 de setembro em São Luís (MA) a Oficina de Negócios Comunitários Sustentáveis do Desafio Conexsus, da qual participaram 15 organizações e cooperativas dos estados do Maranhão, Piauí e Tocantins. Um diferencial desta localidade é a constante luta das organizações comunitárias não apenas pela sobrevivência, mas pelo reconhecimento do direito dos remanescentes de comunidades tradicionais – como quilombolas e povos indígenas – de ocupação de seus territórios, que significam também o sustento das comunidades, muitas vezes. “Muitos participantes são engajados e mobilizados para que a terra onde vivem e trabalham seja reconhecida”, explica o consultor da Conexsus e especialista em crédito rural João Luiz Guadagnin. A maior parte dos participantes fazem parte de Reservas Extrativistas (RESEX) e/ou comunidades quilombolas.

O evento foi realizado pela Conexsus – Instituto Conexões Sustentáveis na sede da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras do Estado do Maranhão (Fetaema). A ideia do Desafio, que está promovendo até outubro outras 12 oficinas como a que aconteceu em São Luís, em diferentes regiões brasileiras, é reunir parceiros e atores dispostos a contribuir para o desenvolvimento de cooperativas e associações produtivas que atuam em cadeias de alimentação saudável e sustentável, manejo florestal comunitário, extrativista e sociobiodiversidadde, entre outras, a fim de promover o ecossistema de negócios sustentáveis no Brasil.

A maior parte dos representantes dos negócios envolvidos lutam pelo reconhecimento de terras, segundo o consultor da Conexsus João Luiz Guadagnin.

A assessora de projetos da Unicafes Nacional (União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária) – instituição parceira estratégica da Conexsus – , Maridalva Lima Lopes, que atua no Maranhão, ficou surpresa com o fato de, assim como seu estado, o Piauí também estar sofrendo com o problema da delimitação de terras. “Essa disputa tem um caráter ideológico, mas principalmente econômico, já que quando os territórios não são delimitados, continuam disponíveis para disputas do mercado, o que beneficia o agronegócio não sustentável, como soja e pecuária extensiva. A questão precisa ser debatida e a oficina teve a importância de identificar  que está acontecendo em vários lugares”, explica.

Ela também lembra que a Unicafes tem trabalhado em suas bases estaduais o incentivo a negócios comunitários sustentáveis, por meio de redes solidárias, o que vai de encontro aos objetivos da Conexsus. “Entendemos que quando se trabalha em rede de comercialização é muito mais fácil chegar ao consumidor final. A parceria entre Unicafes e o Desafio é importante porque nas oficinas temos um diagnóstico muito mais rápido e preciso dos problemas das organizações. Sabendo onde eles estão e quais são, podemos nos dedicar a encontrar novas soluções e caminhos, especialmente em relação a crédito”, complementa.

Geração de conhecimento

A representante da piauiense Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes, uma das organizações participantes da oficina, Marcília Cristina Vieira de Morais Costa, concorda que o acesso ao crédito é um ponto importante de debate e troca de experiências, até porque a formação de capital de giro é atualmente o principal desafio da organização da qual ela faz parte.

Marcília Cristina Vieira de Morais Costa, da Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes, aponta a geração de conhecimento como um dos principais desafios da organização.

No entanto, Marcília aponta o acesso ao conhecimento – para o qual também é necessário capital para investimento – como grande meta da cooperativa, e diz que participar de oficinas como a da Conexsus é um passo para atingi-la. “Quanto mais conhecimento você tem, mais mercado gera e mais chances de crescer. Cursos de profissionalização, qualificação e aperfeiçoamento são fundamentais para uma organização e também para que quem está envolvido nela cresça”, argumenta.

Marcília também aponta a necessidade de valorização nacional dos produtos locais. “Na cooperativa, exportamos para Estados Unidos e Europa, mas muitas vezes nossos produtos não são conhecidos no estado vizinho. É importante se fazer ver no Brasil também, gerando demanda de produção”, afirma. O foco principal da cooperativa é a comercialização do mel de abelhas fruto da agricultura familiar.

Parcerias e cocriação

A Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Resex Ciriaco (Atacareco) nasceu da mobilização de comunidades existentes nesta região do Maranhão nos anos 1990. Hoje, os associados trabalham com agricultura familiar e extrativismo de côco babaçu, com uma unidade de beneficiamento da amêndoa do babaçu e uma casa de farinha. Antônio dos Santos, que participou da oficina pela Atacareco, destaca como desafios a educação em gestão financeira, a formação de capital de giro para compra das amêndoas de outras comunidades parceiras e a busca por mercado de consumo para os produtos, como óleo de babaçu, mesocarpo, azeite e outros derivados. “Foi muito proveitosa a oficina para enxergarmos algo que estava ali perto de nós, mas não percebíamos. É uma oportunidade de readequar aquilo que já temos e transformar em coisas úteis”, argumenta ele.

A parceria com outras comunidades, citada por Santos, também se reflete na relação entre o Desafio e os parceiros que são essenciais para a construção da iniciativa. Segundo a diretora de operações da Conexsus, Carina Pimenta, a atuação in loco das organizações parceiras nos territórios e contextos em que os negócios estão inseridos é essencial. “Contar com parceiros locais propicia um conhecimento e experiência que é muito rico para as soluções que desenvolvemos, sempre buscando ações de mais impacto”, explica.

Maridalva, da Unicafes, tem a expectativa de que essas parcerias locais possam, num futuro próximo, formar uma rede para atrair e buscar fomentar ainda mais o desenvolvimento sustentável no Maranhão e demais regiões. “Se conseguirmos formar uma rede de novas oportunidades para os cooperados já vai ter valido a pena. Além da Unicafes outros parceiros cocriadores podem buscar reconhecimento e recursos para novos projetos juntos”, completa.

Apoiaram a oficina em São Luís os parceiros: União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Sistema OCB/Sescoop-MA, Secretaria Municipal de Agricultura, Pesca e Abastecimento (SEMAPA) e Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural do Maranhão (Agerp).

Parceria e cocriação dão o tom da oficina.

Desafio Conexsus 2018

A Oficina de Negócios Comunitários Sustentáveis faz parte de um ciclo de encontros que teve início em junho, em Belém (PA), e está sendo realizado em mais 12 cidades que reúnem, até outubro, representantes de todas as regiões brasileiras. Além disso, serão realizadas visitas técnicas a algumas organizações para compreender melhor o funcionamento e produção delas. Ambas as atividades devem abranger cerca de 300 participantes do Desafio Conexsus.

Os mais de mil negócios cadastrados na iniciativa, entre os meses de maio e julho, compõem o Mapa e o Panorama de Negócios Comunitários Sustentáveis no Brasil, aberto para consulta online pública pelo site www.desafioconexsus.org. As organizações interessadas em participar do Desafio ainda podem se cadastrar no site para acompanhar oportunidades futuras, bem como integrar a rede nacional de negócios comunitários sustentáveis que está em formação.

Uma das expectativas é que estes empreendimentos, os parceiros cocriadores da iniciativa e outras organizações que compõem esse ecossistema de negócios sustentáveis tornem-se uma rede ativa de fomento ao desenvolvimento sustentável, com a possibilidade de atrair e criar outras oportunidades além das já previstas para o Desafio Conexsus 2018.

Após a realização das oficinas, 70 participantes serão convidados a participar do Ciclo de Desenvolvimento de Negócios Comunitários Sustentáveis, que conta com uma jornada de aceleração, oficinas de modelagem de negócios, laboratório de soluções de acesso à comercialização e mercados, e laboratório de crédito e soluções financeiras.

São parceiros estratégicos da Conexsus: Good Energies Foundation, Grupo Pão de Açúcar, por meio do Instituto GPA, IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e Moore Foundation,Fundo Amazônia, Fundo Vale, Fundação Certi, GIZ /Cooperação Alemã para o desenvolvimento sustentável, Climate and Land Use Alliance (CLUA) e União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes).

São parceiros cocriadores do Desafio Conexsus: Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense (APACO), Central da Caatinga, Central do Cerrado, Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas (Confrem), Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Coomafitt, Ecoa – Ecologia e Ação, Entrenós Planejamento Estratégico, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS), Instituto BioSistêmico (IBS), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),Instituto Centro de Vida (ICV), Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável (IDESAM), Instituto para o Desenvolvimento Sustentável e Cidadania do Vale do Ribeira (IDESC), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Instituto Gaia, Instituto Peabiru, Instituto Terroá, Instituto Socioambiental (ISA), IPAM Amazônia, Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Pacto das Águas, Sentinelas da Floresta, SOS Amazônia  e Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).

Participantes da Oficina de Negócios Comunitários Sustentáveis de São Luís.