Monitoramento de negócios comunitários gera evidências de impactos econômicos e socioambientais positivos

Voltar para Notícias

Oficina de Co-construção de Protocolos de Monitoramento reuniu representantes de 18 cooperativas e associações nos dias 6 e 7 de fevereiro, em Brasília (DF).

 

“Tivemos troca de conhecimentos com a equipe da Conexsus e com outras cooperativas, algumas com processos de monitoramento semelhantes ao nosso e outras que estão em momentos diferentes. Temos muitos desafios para superar e com os conhecimentos que vamos levando daqui para nossas cooperativas percebemos que podemos avançar”, relata a paraense Kátia Silene Alves Damasceno, da CART – Cooperativa Agrícola Resistência de Cametá.

 

A Oficina de Co-construção de Protocolos de Monitoramento foi oferecida pela Conexsus – Conexões Sustentáveis, no âmbito do projeto Mercados Responsáveis, com apoio da Trafigura Foundation,  para cooperativas e associações produtivas de todas as regiões do Brasil que se engajam em atividades econômicas nas cadeias da sociobioeconomia.

 

“De uma forma geral, o monitoramento serve para verificar se você está atingindo os seus objetivos, avaliar suas estratégias e verificar seus resultados, entre outras aplicações práticas, portanto é um processo de múltiplas funções. O objetivo desta oficina é incentivar e apoiar esse processo, a partir das abordagens, experiências e acúmulos da Conexsus e também, a partir da construção de cada cooperativa ou associação envolvida”, destaca Monika Röper, diretora programática da Conexsus.

 

Gerar evidências

Negócios comunitários geram impactos econômicos e socioambientais positivos,  gerando renda em áreas rurais e florestais, atuando no fortalecimento das comunidades, na manutenção de modos de vidas tradicionais e contribuindo para a conservação das florestas e resiliência dos territórios. Como demonstrar esses impactos? O desafio na geração de evidências pode ser constatado tanto no nível de fontes secundárias, quanto em fontes primárias, por exemplo, a representação dos negócios comunitários e de suas atividades nos recortes estatísticos oficiais é sempre bastante limitada. Por outro lado, também é frágil a geração, gestão e disponibilização de informações na maioria dos negócios comunitários.

 

“Na interação com eles percebemos que tem vários pontos desafiadores para realização desse tipo de monitoramento, um deles é o fato de que grande parte das cooperativas e associações ter pouca informação organizada sobre si, sobre sua história, seu território, pouca sistematização dos seus resultados e potencial produtivo, além de pouca reflexão sobre os resultados gerais e financeiros de suas atividades. Junto com eles queremos entender se o que estamos monitorando são realmente informações centrais e relevantes, especialmente para os próprios negócios comunitários. É muito importante incentivar que eles mesmos possam fazer levantamentos, coletar dados dos territórios e pessoas envolvidas, acompanhar e monitorar essas informações para si mesmos e para o futuro dos negócios da sociobiodiversidade”, completa Monika.

 

“Aqui conseguimos visualizar que na prática monitorar com qualidade é um grande desafio, mas é uma ação super importante. Quando vemos que outras instituições estão caminhando no mesmo sentido que a gente, também nos sentimos mais amparados e esse apoio que a Conexsus está oferecendo nos ajuda a aprimorar esse processo e até mesmo a abraçar novas estratégias, conhecer ferramentas onde a gente possa trazer esses indicadores e avançar”, afirma Débora Maria Fiametti, presidenta da CooperSaf – Cooperativa Solidária da Agricultura Familiar, que fica em Alta Floresta (MT).

 

Sobre as possíveis abordagens metodológicas para realizar o monitoramento, Monika Röper destaca que existem formas que vão do muito simples ao altamente sofisticado e avançado.  “A gente acredita que o importante é começar, mesmo que seja com aquelas coisas mais simples, mais básicas e depois vamos construindo e avançando. É assim que temos feito para o nosso próprio sistema de monitoramento, considerando que trabalhamos com negócios comunitários em diferentes níveis de maturidade.  Observamos que muitos estão no início dessa caminhada e outros já estão mais avançados, a experiência de um contribui com o caminho de outros”.

 

Resgate de valores comunitários

Para Gerusa Alves, presidenta da ACOTERRA – Associação Comunitária Terra Sertaneja, que fica em Monte Santo (BA), a oficina trouxe muitas luzes para o futuro.

“A partir do aprimoramento dos processos de monitoramento vamos conseguir observar melhor, por exemplo, se a produção do licuri cresce ou diminui. Temos uma produção extrativista, o fruto nasce de forma espontânea. Se conseguimos monitorar onde se encontram as palmeiras, onde se dá a maior incidência do fruto, quantas famílias estão trabalhando na coleta no território, como elas têm se beneficiado, se tivermos uma estatística desses fatores, também podemos ser assertivos e ampliar as possibilidades de agregar valor, expandir e melhorar a produtividade, ano após ano. Na nossa atual estimativa, não aproveitamos nem 10% da capacidade produtiva do licuri em nossa região”, avalia.

 

Em Itiquira (MT), as mulheres estão avançando no processo produtivo de biojoias, como relata Cristiane Silva Reis, da COOPSOB – Cooperativa de Seringueiros de Ouro Branco. “Eu acredito que aprimorar nosso processo de monitoramento vai nos ajudar na cadeia de valor da borracha. A principal renda dos nossos cooperados e cooperadas vem da borracha e nós mulheres percebemos a oportunidade de trabalhar com o desenvolvimento de biojoias, bolsas com borracha natural, produção de tecidos emborrachados e mantas coloridas do látex, que é o material usado nas biojoias. Estamos organizadas, nosso grupo se chama Flores da Seringueira, mas temos muita dificuldade de acesso ao crédito e entendemos que sistematizar nossos valores comunitários e resultados certamente pode nos abrir portas”.

 

A Conexsus define sua abordagem de monitoramento como modular e pragmática. Todo o ciclo se organiza sob três pilares: monitoramento no nível de negócios comunitários; monitoramento no nível de unidades produtivas; e monitoramento geoespacial, em âmbito regional.

 

Em julho de 2024, o grupo volta a se reunir para dar continuidade aos processos iniciados com esta primeira oficina. O objetivo é avançar no desenvolvimento e teste de um protocolo de monitoramento, conforme perspectivas e particularidades dos negócios comunitários, que permita demonstrar os impactos econômicos e socioambientais de sua atuação nos territórios.  O momento será uma nova oportunidade de avaliar os protocolos e ferramentas utilizadas.