Mulheres movem as cadeias da sociobiodiversidade, mas quem garante que elas tenham acesso aos recursos que precisam?
Antes de coletar, beneficiar e comercializar, as mulheres já começaram a trabalhar: elas acordam primeiro, preparam a comida, organizam a casa, cuidam dos filhos e garantem que tudo funcione.
Cuidar também é trabalho e precisa ser valorizado
A Conexsus tem atuado para mudar essa realidade, identificando a participação das mulheres nas cadeias de valor e, junto aos negócios comunitários, promovendo compromissos pela inclusão feminina. Isso significa garantir acesso a crédito adequado às cadeias da sociobiodiversidade e fortalecer ecossistemas mais justos e equitativos.
Murumuru, pirarucu, borracha e açaí: as mulheres trabalham mais, mas decidem menos
Em diagnósticos realizados pela Conexsus e oficinas com famílias no Marajó e Resex Médio Purus mostram que essa desigualdade de gênero se repete em diversas cadeias de valor da sociobiodiversidade. O documento apresenta uma análise preliminar das informações coletadas em atividades realizadas com os moradores que se dedicam às cadeias de valor do murumuru, pirarucu e borracha. Os grupos divididos entre mulheres e homens identificaram e analisaram restrições de gênero nas cadeias, além do mapa da divisão do trabalho entre homens e mulheres, respectivamente.
▪ Na cadeia produtiva do pirarucu, os homens pescam e transportam, mas sem as mulheres cozinhando, limpando e organizando o peixe, preenchendo fichas e garantindo o suporte logístico, essa atividade ocorreria com dificuldades severas. Apesar disso, as mulheres ainda identificam dificuldades para participação em espaços de diálogo e decisão pelo trabalho de cuidado com os filhos e família.
▪ Na cadeia produtiva do murumuru, as mulheres dominam as etapas de coleta, limpeza, secagem e beneficiamento. Mas a divisão da atividade produtiva com os cuidados com a casa limita oportunidades para qualificar a organização produtiva.
▪ Na cadeia produtiva da borracha, o extrativismo segue sendo visto como trabalho masculino, mas as mulheres assumem todo o suporte invisível: organizam a casa, cuidam dos filhos e, muitas vezes, também coletam outros produtos para complementar a renda familiar.
▪ Na cadeia produtiva do açaí, a desigualdade também está presente. O trabalho pesado de coleta e beneficiamento tem participação feminina, mas muitas mulheres consideram que a cooperativa, em seus espaços de decisão, não é lugar para mulher. O mapeamento aponta que enquanto os homens têm mais tempo para descanso e lazer, as mulheres acumulam mais horas de trabalho produtivo e doméstico, sem uma divisão justa.
Não basta reconhecer, é preciso mudar
Para ultrapassar as desigualdades sobre as mulheres nas cadeias de valor é preciso oportunizar o acesso a crédito contextualizado às suas atividades, promover a participação em espaços de diálogo e decisão, além de construir estratégias que reconheçam o trabalho de cuidado como um ativo econômico nas cadeias de valor. A equidade de gênero não é apenas uma questão de justiça social – é uma necessidade para fortalecer toda a economia da sociobiodiversidade.
Quando as mulheres têm autonomia sobre seus rendimentos, elas investem em suas famílias, fortalecem suas comunidades e impulsionam a economia local. Quando elas podem participar das decisões sobre comercialização e gestão, as cadeias de valor se tornam mais justas e sustentáveis.
Neste mês de março, reafirmamos um compromisso: as mulheres sempre estiveram no centro das cadeias produtivas. O que falta é que esse protagonismo se traduza em poder, autonomia e renda e isso é bom para todo mundo!