Murumuru ganha valor pelas mãos das mulheres no Amazonas

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Com o trabalho de orientação realizado pela Aspacs, aumenta o número de famílias interessadas em realizar a coleta do fruto, de grande valor para a indústria de cosméticos

Uma palmeira alta e cheia de espinhos, que até há pouco tempo era considerada praga, derrubada e queimada, se transformou em uma das principais fontes de sustento para várias famílias extrativistas do sul do Amazonas que coletam o seu fruto, o murumuru. Com a descoberta dos inúmeros benefícios da semente, atualmente a árvore é preservada, existindo, inclusive, incentivo à sua produção. 

 O murumuru é um bom exemplo da rica biodiversidade do bioma Amazônia, que é a maior  do planeta, concentrando cerca de 15% da sua totalidade. Embora já fossem conhecidas pelos indígenas, as propriedades do fruto da palmeira típica da região não eram bem aproveitadas pelas comunidades tradicionais da Amazônia. O óleo extraído da semente é  um ingrediente valiosíssimo para a indústria de cosméticos por suas propriedades hidrantes. 

Essa é uma das sementes coletadas pelas comunidades extrativistas que fazem parte da ASPACS (Associação dos Produtores Agroextrativistas da Colônia do Sardinha), sediada no município de Lábrea, a cerca de 850 quilômetros de Manaus. A associação também contribui na comercialização de outros produtos do extrativismo vegetal, como a andiroba, o tucumã, o cupuaçu e a copaíba. 

Criada há mais de 20 anos para processar produtos amazônicos extraídos por ribeirinhos da Colônia do Sardinha, a associação ampliou sua atuação e hoje atende cerca de 120 famílias em 26 comunidades distribuídas em municípios da calha do rio Purus, no sul do Amazonas.  

Composta por uma diretoria 90% feminina, a Aspacs tem conseguido ampliar a produção de sementes a partir de um trabalho de orientação com as comunidades extrativistas. Em visitas realizadas antes da safra são ensinadas boas práticas agrícolas e formas de extrativismo sustentável, que contribuem para a profissionalização das famílias produtoras enquanto protegem a biodiversidade.

Para a presidente da Aspacs, Sandra Barros Maia, o trabalho de valorização das comunidades ribeirinhas é fundamental para a conservação e manutenção da floresta em pé. “Muitas famílias não têm conhecimento do potencial que esses frutos representam e, com o trabalho que estamos realizando, conseguimos conscientizá-las das oportunidades para ter uma fonte de renda e melhorar sua qualidade de vida”, afirma Sandra. 

A linha de crédito emergencial disponibilizada pela Conexsus no início da pandemia do Coronavírus está possibilitando a construção de um secador solar em uma das comunidades que fornecem para a Aspacs, proporcionando agilidade no processo de secagem e melhoria no aproveitamento de diversas sementes. Com um tratamento adequado, as amêndoas chegam na usina da Aspacs em condições melhores, facilitando a seleção e obtenção da manteiga vegetal. 

Boas práticas

Antes do início da safra, que vai de março a julho, uma equipe da Aspacs, que pode chegar a 8 pessoas, dá início às visitas às comunidades. O deslocamento é todo realizado em balsas, com um roteiro de até 14 dias. Apenas para chegar na última comunidade, que fica no município de Canutama, são 3 dias de viagem. A equipe permanece 2 dias em cada núcleo. 

“Normalmente, o trabalho é feito de forma precária e não há estrutura e espaço adequado para realização das atividades e armazenamento das sementes”, explica Maria do Socorro Rodrigues dos Santos, gerente de produção da Aspacs. “Conhecendo a realidade das famílias, nós podemos orientá-los em como melhorar o processo e gerar benefícios para toda a cadeia de produção envolvida”, completa Socorro. 

Entre as boas práticas estão o acompanhamento da maturação das palmeiras, a criação de uma trilha de acesso e a limpeza, com facão, ao redor das palmeiras, para que sejam coletados apenas os frutos da safra atual. 

Frutos roídos, quebrados, ocos, furados ou atacados por fungos devem ser deixados na floresta, pois não possuem qualidade apropriada. Depois da coleta, os frutos devem ser secos para que a polpa amarelada seja separada da semente, de onde se extrai a gordura. 

A etapa seguinte é o transporte das sementes até a usina para produção da manteiga. Na usina da Aspacs, em Lábrea, que funciona desde 2004, o trabalho minucioso de quebra e seleção das sementes é feito por 17 mulheres. A gordura, que quando fria se transforma numa manteiga branca, é extraída após as amêndoas passarem por um processo que envolve trituração, prensagem e filtragem. Na sequência, a manteiga é envasada e vendida para empresas de cosméticos que usam o ingrediente em produtos para a pele e para os cabelos, com inúmeros benefícios. 

Finanças de impacto

Mais do que apenas retorno financeiro, o crédito e auxílio possibilitam que trabalhadores de comunidades consigam ampliar sua atuação em produções sustentáveis. Com isso, agregam ainda mais valor à sociedade, mantendo a floresta de pé e preservando recursos naturais sem comprometer o trabalho e a renda de comunidades ligadas à agricultura familiar e extrativismo. A Conexus, assim, empreende o desenho e implementação de diversos programas e iniciativas com múltiplos parceiros (organizações da sociedade civil, empresas, agentes financeiros, investidores), combinando produtos e serviços financeiros que oferecem assistência técnica especializada para cooperativas, associações, micro e pequenas empresas, e também pequenos produtores da agricultura familiar e extrativistas.