As vantagens da agrofloresta para o meio ambiente e negócios comunitários
Existem diversos aliados na luta pela conservação dos biomas ameaçados, como a Floresta Amazônica e o Cerrado, por exemplo. Um dos mais importantes é o chamado sistema agroflorestal, também conhecido como SAF. Permitindo aliar plantação de alimentos e preservação da natureza, as agroflorestas são hoje um instrumento indispensável para gerar renda aos agricultores e combater o desmatamento e as mudanças climáticas.
De uma forma bem resumida, uma agrofloresta consiste no compartilhamento do mesmo espaço para produção de diferentes espécies agrícolas, tais como gramíneas, frutíferas e árvores florestais. Mas, como funciona exatamente esse sistema?
A agrofloresta reúne diversas culturas numa mesma área cultivada para replicar a maneira como os ecossistemas funcionam. Seu principal objetivo é utilizar de forma consciente os produtos agrícolas e, ao mesmo tempo, proteger, conservar, diversificar e sustentar recursos econômicos e ambientais.
Na natureza, diferentes organismos evoluíram para apoiar uns aos outros e é muito comum que compartilhem o fornecimento de nutrientes, sombra ou água. Assim, no sistema agroflorestal, árvores, cultivos e animais vivem integrados para criar essas relações de apoio.
Com isso, temos um sistema mais parecido com os ecossistemas naturais. De um modo geral, quanto mais espécies houver em um sistema, mais abundante e estável ele é. Assim, em uma SAF, a composição é diversificada, podendo contar com até 20 espécies.
Esse aumento da biodiversidade possibilita diminuição da erosão e conservação das nascentes, exercendo um importante papel na adaptação a eventos climáticos extremos.
Portanto, a escolha de combinações de espécies de árvores e culturas é extremamente importante ao estabelecer esses sistemas.
No Brasil, apenas na Amazônia, a Aliança pela Restauração da Amazônia identificou mais de 1.600 iniciativas de restauração por meio de Sistemas Agroflorestais no bioma. Mas os benefícios da agrofloresta vão além.
Conservação e regeneração do solo – O solo de uma agrofloresta é mais nutrido e, portanto, os alimentos produzidos nele possuem melhor qualidade. Isso acontece porque há abundância de matéria orgânica, provenientes das raízes das diversas culturas e dos microorganismos que vivem nelas.
Controle de erosão – O sistema agroflorestal pode controlar o escoamento e a erosão do solo, reduzindo perdas de água, material do solo, matéria orgânica e nutrientes. Também mantém a matéria orgânica do solo e a atividade biológica em níveis satisfatórios para a fertilidade do solo.
Maior possibilidade de renda para os produtores: Diferentes culturas também implicam em diferentes fontes de renda. Assim, se uma cultura falhar ou perder seu valor de mercado, um agricultor ainda pode realizar outras colheitas. A agrofloresta produz maior variedade de frutas e hortaliças saudáveis para consumo próprio.
Assim, o SAF contribui diretamente para a conservação dos recursos naturais, a mitigação dos efeitos da mudança climática e o combate à fome.
Desde 2018, atuamos para ativar o ecossistema de negócios sustentáveis, principalmente os de base comunitária, como cooperativas e associações, e alguns destes utilizam agroflorestas em sua produção. Com esse propósito, criamos o Laboratório de Negócios Agroflorestais, o Lab SAF, um laboratório de inovação aberta. O Lab SAF foi concebido em parceria com o Fundo Vale, a Fundação Certi e a Kaeté Investimentos, e teve foco no desenvolvimento de negócios a partir de sistemas agroflorestais.
Sua estrutura foi concebida a partir de três eixos centrais de atuação: tecnologia agroflorestal, negócios sociais e modelos de investimento. Assim, reuniu projetos com modelos diversos de produção em diferentes regiões brasileiras, sendo a criação da Belterra, o maior resultado do Lab SAF.
A Belterra é uma empresa que faz parcerias com pequenos e médios agricultores, transformando terras degradadas em florestas produtivas, principalmente por meio de um sistema agroflorestal.
Em 2022, ambas organizações se uniram ao Grupo Gaia e ao Santander para um financiamento misto, conhecido também como blended finance, que gerou a emissão de R$ 17 milhões em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) para fornecer capital de giro a negócios comunitários – muitos deles atuantes a partir de SAFs, de culturas como cacau, castanhas e açaí, e pequenas e médias empresas de impacto nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Esse capital é mais um instrumento financeiro inovador para garantir aos negócios de impacto socioambiental escala e viabilidade econômica que se traduz em impacto.
Você pode saber mais sobre o CRA Verde aqui.
