Oficina em Belo Horizonte mostra a diversidade de produtos da região

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Produção de cachaça, café, frutas, farinhas e óleos aproveitando o que o Cerrado, Mata Atlântica e a Caatinga têm a oferecer foi a marca da penúltima oficina do Desafio Conexsus 2018

Cerveja de coquinho azedo foi um dos produtos expostos pelos participantes durante a oficina.

Agricultores familiares tradicionais, assentados da reforma agrária, quilombolas e extrativistas formaram o perfil das 21 organizações participantes da Oficina de Negócios Comunitários do Desafio Conexsus, realizada nos dias 25 e 26 de setembro no espaço HallzE, em Belo Horizonte (MG). A iniciativa é desenvolvida pela Conexsus – Instituto Conexões Sustentáveis, com o objetivo de desenvolver esses negócios, em geral cooperativas e associações de produtores, socioeconomicamente.

O estado de Minas Gerais, onde os empreendimentos se localizam, tem uma variedade muito grande de produtos e alimentos e isso se refletiu na diversidade de produção mostrada pelos participantes”, explica o integrante da Conexsus Paulo Guilherme Cabral, que mediou a oficina. Café, cana, cachaça, feijão, mel, fubá de milho, farinha de mandioca, sabão e óleo de macaúba, cerveja de coquinho azedo e óleo de buriti são alguns desses variados produtos.

A Cooperativa dos Agricultores Familiares e Agroextrativistas Grande Sertão, que fica no Norte de Minas Gerais, atende mais de 30 municípios e trabalha com quase 250 cooperados é um exemplo desse leque amplo de produção. O carro chefe da cooperativa é a polpa de frutas congeladas, com 16 sabores de frutas dos biomas Caatinga e Cerrado, mas também há produção de derivados da cana-de-açúcar, como rapadurinha, açúcar mascavo, cachaça e melado; pequi congelado a vácuo; farinha de mandioca, cerveja artesanal de coquinho azedo e a cadeia produtiva de óleo de buriti, da qual toda a produção é destinada para a empresa de cosméticos Natura.

O engenheiro de alimentos e coordenador técnico da Grande Sertão, José Fábio Soares, explica que, além de fortalecer a imagem nacional e internacional dos produtos da região, o foco do trabalho é o fortalecimento do lado social das cooperativas. “Vemos as atividades produtivas na região como uma motivação para a formação de gestões públicas que pensem na agricultura familiar e extrativismo, nos grupos de mulheres, jovens e quilombolas que fazer parte da nossa cooperativa e de outras”, explica.

A oficina foi muito rica em experiências de produção orgânica e agroecológica. Percebemos um percentual menor de produtos in natura em relação a outras regiões. Isso facilita a chegada a outros estados e até a exportação, pois os produtos duram mais tempo na prateleira”, comenta o integrante da Conexsus Gustavo Assis, que participou da mediação da oficina. Um exemplo de organização que tem utilizado dessa característica é a Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (Coopfam), que realiza exportação de seus produtos.

Representantes dos empreendimentos mostram sua produção na cesta de oportunidades.

Reconhecimento dos negócios

Para a responsável por gestão de parcerias do Fundo Vale – parceiro estratégico da Conexsus – Márcia Soares, o momento de compartilhamento é rico não somente pela carência de espaços de troca e articulação entre iguais, mas também pelo reconhecimento e valorização que os empreendimentos tomam de si mesmos para seguir em frente. “É importante que esses negócios se vejam como negócios, com consolidação independente de doações, por exemplo. Mostrar que existem outras possibilidades de fortalecimento de gestão. O Fundo tem apoiado iniciativas, como a da Conexsus, com esse olhar de fortalecer o ambiente de finanças sociais e negócios de impacto”, explica ela.

Márcia também cita o histórico de apoio do Fundo a iniciativas na Amazônia, em especial a projetos produtivos. Ela percebe que o modelo de apoio por doação, em determinadas fases dos negócios,fragiliza e gera dependência para a consolidação e expansão das associações e cooperativas.O Desafio Conexsus permite que os participantes enxerguem a possibilidade de recursos alternativos e busquem soluções de maneira colaborativa, favorecendo um crescimento muito mais consistente a longo prazo”, completa.

O coordenador técnico estadual da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Raul Machado, que falou sobre as ações que a Emater desenvolve em Minas Gerais para a preparação dos empreendimentos para o mercado, está animado para a próxima etapa do Desafio, o Ciclo de Desenvolvimento de Negócios Comunitários Sustentáveis. Nessa próxima fase, 70 das 300 organizações que participaram das oficinas vão passar por um processo de aceleração, oficinas de modelagem de negócios, laboratório de soluções de acesso à comercialização e mercados, e laboratório de crédito e soluções financeiras.

A oficina vai de encontro ao que a Emater desenvolve. Falar e ouvir sobre comercialização e gestão gerou bastante aprendizado e ampliou nossa visão quando se fala em modelagem de negócios, com a oportunidade de apronfudar a discussão de programas de comercialização e mercados institucionais”, comenta ele.

Participantes compartilham aprendizados.

Alimentos saudáveis na sociedade

A presença massiva de produtores envolvidos com agroecologia e produção orgânica mostra a importância do consumo consciente e de alimentos mais saudáveis e naturais. A Cooperativa de Consumo de Alimentos Saudáveis (Coopas) é uma cooperativa de consumidores que propõe uma forma diferente de adquirir produtos agroecológicos. Os consumidores recebem cestas de produtos sabendo quem os produz e onde são produzidos. A cooperativa tem cerca de 50 cooperados e beneficiados semanalmente com distribuição de cesta de alimentos frescos.

Nossa grande motivação é o cuidado com a saúde. Quando decidimos organizar a cooperativa, há dois anos, além do nosso compromisso social, pensamos que é fundamental conhecer a procedência dos alimentos que as pessoas consomem”, diz o diretor presidente da cooperativa, Danilo Cezar Torres Chaves.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), que é parceira cocriadora do Desafio Conexsus e atua nacionalmente na defesa dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, em especial no fortalecimento da agricultura familiar, também vê como essencial a preocupação com a saúde alimentar e a expansão de mercados nesse sentido. “As organizações precisam se preparar melhor no sentido de ter uma fatia maior de um mercado [de produtos orgânicos e agroecológicos] que está pulsando. Muitas vezes, por falta de gestão ou de organização, não conseguimos abranger esses mercados de maneira global, mas tem que ser o nosso objetivo”, declara Antoninho Rovaris, secretário de política agrícola da Contag.

Para isso, iniciativas como o Desafio funcionam como motor para que os empreendimentos se fortaleçam, estruturem e desenvolvam para buscar mercados mais amplos. “O processo de organização produtiva passa por todo um trabalho que a Contag vem fazendo ao longo dos anos, e a Conexsus se encaixa nessa perspectiva de melhor gestão, que gera maior garantia de renda para as famílias e de qualidade de vida para os agricultores”, completa.

Dinâmicas também fazem parte das atividades da oficina.

Apoiaram a oficina do Desafio Conexsus em Belo Horizonte: Fundo Vale, SEDA, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes) e Pipe Social.

Desafio Conexsus 2018

A Oficina de Negócios Comunitários Sustentáveis faz parte de um ciclo de encontros que teve início em junho, em Belém (PA), e está sendo realizado em mais 12 cidades que reúnem, até outubro, representantes de todas as regiões brasileiras. Além disso, serão realizadas visitas técnicas a algumas organizações para compreender melhor o funcionamento e produção delas. Ambas as atividades devem abranger cerca de 300 participantes do Desafio Conexsus.

Os mais de mil negócios cadastrados na iniciativa, entre os meses de maio e julho, compõem o Mapa e o Panorama de Negócios Comunitários Sustentáveis no Brasil, aberto para consulta online pública pelo site www.desafioconexsus.org. As organizações interessadas em participar do Desafio ainda podem se cadastrar no site para acompanhar oportunidades futuras, bem como integrar a rede nacional de negócios comunitários sustentáveis que está em formação.<

Uma das expectativas é que estes empreendimentos, os parceiros cocriadores da iniciativa e outras organizações que compõem esse ecossistema de negócios sustentáveis tornem-se uma rede ativa de fomento ao desenvolvimento sustentável, com a possibilidade de atrair e criar outras oportunidades além das já previstas para o Desafio Conexsus 2018.

Após a realização das oficinas, 70 participantes serão convidados a participar do Ciclo de Desenvolvimento de Negócios Comunitários Sustentáveis, que conta com uma jornada de aceleração, oficinas de modelagem de negócios, laboratório de soluções de acesso à comercialização e mercados, e laboratório de crédito e soluções financeiras.<

São parceiros estratégicos da Conexsus: Good Energies Foundation, Grupo Pão de Açúcar, por meio do Instituto GPA, IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e Moore Foundation,Fundo Amazônia, Fundo Vale, Fundação Certi, GIZ /Cooperação Alemã para o desenvolvimento sustentável, Climate and Land Use Alliance (CLUA) e União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes).

São parceiros cocriadores do Desafio Conexsus: Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense (APACO), Central da Caatinga, Central do Cerrado, Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas (Confrem), Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Coomafitt, Ecoa – Ecologia e Ação, Entrenós Planejamento Estratégico, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS), Instituto BioSistêmico (IBS), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),Instituto Centro de Vida (ICV), Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável (IDESAM), Instituto para o Desenvolvimento Sustentável e Cidadania do Vale do Ribeira (IDESC),Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Instituto Gaia, Instituto Peabiru, Instituto Terroá, Instituto Socioambiental (ISA), IPAM Amazônia, Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Pacto das Águas, Sentinelas da Floresta, SOS Amazônia  e Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).

Participantes da Oficina de Negócios Comunitários Sustentáveis em Belo Horizonte.

Contribuição fotos: Hallze