
Painel na COP30 reuniu especialistas que destacam o papel das comunidades e das redes produtivas na construção de uma economia sustentável e inclusiva
A sociobioeconomia foi apresentada como solução climática e modelo econômico central para o futuro da Amazônia durante o painel Cooperação pela Amazônia, realizado pela Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), durante o segundo dia da COP30. O debate ressaltou a urgência de fortalecer negócios comunitários, ampliar o acesso a mercados éticos e implementar mecanismos de crédito e certificação adaptados às realidades locais.
Para Fabíola Zerbini, diretora-executiva da Conexus, é essencial compreender a sociobioeconomia como parte estruturante da agenda climática global. Ela destacou que mais de 30 milhões de pessoas vivem na Pan-Amazônia — entre elas povos indígenas e comunidades tradicionais — e enfrentam diretamente os impactos da crise climática. O fortalecimento de seus modos de vida e de suas economias, afirmou, é condição indispensável para uma transição sustentável.

A Conexus coordena, em parceria com organizações de seis países, o projeto AmazonBeEco, apoiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Fundo Verde para o Clima (GCF). Uma das propostas do projeto foi o Pan Amazon Challenge que identificou mais de três mil negócios comunitários com potencial de gerar renda e conservação, especialmente nas cadeias do cacau, da borracha, das frutas nativas, do turismo sustentável e dos serviços ecossistêmicos.
Segundo Fabíola, o desenvolvimento dessas cadeias exige três pilares complementares: capacitação e incubação de negócios comunitários, acesso a mercados éticos e justos e linhas de crédito customizadas que garantam autonomia econômica e sustentabilidade ambiental.
Na sequência, Luis Brasi Filho, do Imaflora, apresentou experiências de certificação e rastreabilidade como instrumentos de valorização dos produtos da floresta e de geração de renda para comunidades tradicionais. A organização, que completou 30 anos em 2025, foi responsável por introduzir no Brasil o sistema de certificação FSC e por criar, em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), a rede Origens Brasil, que conecta comunidades e empresas por meio do comércio ético e transparente.
Com atuação em mais de 60 milhões de hectares de áreas protegidas, a rede envolve 45 empresas e 90 organizações parceiras, promovendo relações comerciais sustentáveis e reconhecidas pela ONU como uma das principais tecnologias sociais de valorização socioambiental. Grassi ressaltou que políticas públicas estruturantes e pagamentos por serviços ambientais (PSA) são fundamentais para ampliar o impacto dessas iniciativas e recompensar financeiramente as comunidades que protegem as florestas.

Encerrando o painel, Samuel Dyer, do Grupo ProAmazonía, destacou a importância de integrar o setor privado à transição para uma economia sustentável na região. Ele lembrou que a Amazônia peruana representa 62% do território nacional, mas responde por menos de 6% do PIB do país, com altos índices de pobreza e informalidade. Para reverter esse quadro, o grupo defende um plano estratégico de longo prazo, investimentos em infraestrutura sustentável e apoio massivo ao empreendedorismo lícito e comunitário.
Dyer reforçou que o desenvolvimento da Amazônia depende de segurança, presença estatal e oportunidades econômicas legítimas, e que a promoção de empreendimentos sustentáveis é a melhor forma de enfrentar as atividades ilegais e o desmatamento.
Ao longo das apresentações, os especialistas convergiram em um ponto comum: a sociobioeconomia é o caminho para aliar conservação ambiental, justiça social e desenvolvimento econômico. O fortalecimento de cadeias produtivas sustentáveis, a integração entre políticas públicas e iniciativas locais e o reconhecimento do papel das comunidades amazônicas são passos essenciais para transformar a região em um modelo global de economia verde e inclusiva.