Bons exemplos e alternativas para o desenvolvimento de negócios comunitários na oficina em Macapá

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Organizações e cooperativas da região participaram da atividade, que simulou reflexões sobre os desafios e buscou criar conexões entre os negócios envolvidos

A Cesta de Oportunidades é o momento em que os participantes apresentam aos demais os produtos que desenvolvem, como o artesanato. Fotos: Amilton Mineharu Matsunaga

O estado do Amapá e região, e também da Ilha de Marajó, receberam a Oficina de Negócios Comunitários Sustentáveis do Desafio Conexsus nos dias 21 e 22, no Centro de Pastoral e Cultura Dom José Maritano – Diocese de Macapá (AP). O Desafio é realizado pela Conexsus – Instituto Conexões Sustentáveis, que visa promover o ecossistema de negócios sustentáveis no Brasil a partir da reunião de diversos parceiros dispostos a contribuir para o desenvolvimento de cooperativas e associações de produtores que contribuem para esse objetivo.

Participaram 23 organizações que atuam com principalmente com extrativismo sustentável e agricultura familiar, em cadeias produtivas como as de frutas e polpas, castanhas, cacau nativo, pesca artesanal e também produção de óleos essenciais, sabonetes e cremes, entre outras. “Tivemos um grupo heterogêneo e muito receptivo para as atividades propostas da oficina. Todos foram generosos, dedicaram seu tempo e trouxeram contribuições significativas. Embora a oficina seja uma parte do Desafio, é um importante momento de troca e mostra que esse processo não é excludente – este é só o começo de um relacionamento com todos estes participantes”, avalia o responsável pela oficina, Júnior Fragoso, da Conexsus.

A troca de experiências também foi considerada enriquecedora pelo assessor técnico da Agência Alemã de Cooperação Internacional GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit), André Machado – parceiro estratégico da Conexsus. O assessor traçou um paralelo entre o Desafio Conexsus e o projeto “Mercados Verdes e Consumo Sustentável”, desenvolvido pela GIZ, sobre o qual ele falou na oficina. Ambos têm em comum o objetivo de fomentar o ecossistema de negócios sustentáveis. “É muito produtivo unir diferentes perfis, cadeias de valor e canais de comercialização, como foi feito aqui em Macapá, para construir esse ambiente sustentável de negócios. Precisamos justamente debater com as pessoas para chegar a bons modelos de negócio”, comenta.

Mesmo para as organizações com atividades e perfis diferentes, o compartilhamento das experiências de gestão e estratégias de organização entre os participantes foi considerado importante. O representante da Associação São João, de Mazagão (AP), Edson Costa, disse enxergar a possibilidade de expandir os negócios nas áreas em que a organização atua, de agricultura familiar e pesca, pois a região é rica e, em determinada época do ano, tem abundância de pescados como dourado, filhote e outros.

Mais produtos apresentados. Derivados da pesca artesanal fizeram parte da cesta. Fotos: Amilton Mineharu Matsunaga

Para tanto, seria necessária ainda a aquisição de um barco e de uma câmara frigorífica para ao uso das comunidades envolvidas, por meio da associação, segundo ele. “Aqui, ao mesmo tempo que o associado é agricultor, ele também é pescador. Então, em épocas de pescado forte, ter um barco traria economia para nós”, explica. Edson relata que refletiu mais sobre essa possibilidade de expansão ao ouvir sobre os desafios das entidades participantes da oficina.

Particularidades da região

O Amapá é o estado da Amazônia Legal que possui as maiores áreas de floresta conservada, (mais de 90%). Criar alternativas sustentáveis para geração de renda e estimular as já existentes pode ser uma estratégia poderosa para a manutenção do potencial biodiverso e cultural da região. E a região do Marajó faz parte de um ecossistema peculiar, com cadeias de valor extremamente atrativas para o mercado local e nacional, com a pesca artesanal, artesanato e turismo de base comunitária, segundo Júnior.

Nesse sentido, o desafio proposto pela Conexsus, visa fortalecer as iniciativas já em curso pelas organizações socioprodutivas e os parceiros nestas regiões. É importante que esse povo com história de resistência tenha a oportunidade de compartilhar alguns dos seus próprios desafios e conquistas alcançadas ao longo de sua trajetória em realizar negócios na Amazônia brasileira”, analisa.

Troca de experiências é um dos pontos principais da oficina. Fotos: Amilton Mineharu Matsunaga

Para o presidente do Conselho Nacional de Seringueiros (CNS) – parceiro cocriador do Desafio –, Joaquim Belo, as oficinas podem influenciar positivamente a região com contribuições para o desenvolvimento de negócios que envolvem comunidades locais e tradicionais. Ele destaca a necessidade de compreender a realidade da Amazônia, seus diferentes desafios quanto ao tempo, distâncias, logística e sazonalidades, que são diferentes de outras regiões do Brasil. “É também uma oportunidade de preservar e zelar por uma cultura que, a cada dia, vem sendo desfigurada pelo modelo que segue um padrão mundial. Lutamos para resistir e manter esse nosso berço de cultura, não podemos discutir a questão econômica sem envolver também cultura e meio ambiente. A contribuição da Conexsus pode somar-se a essa caminhada que já existe historicamente, com uma visão mais moderna desse sistema”, comenta.

Exemplos de sucesso compartilhados

Uma das organizações presentes foi a Cooperativa dos Produtores Agroextrativista do Bailique, que conta com quase 100 produtores de açaí e cujo açaizal é o único no mundo a ter certificação do Conselho de Manejo Florestal, o FSC (Forest Stewardship Council). O integrante da cooperativa, Jeová Alves, falou aos participantes sobre a experiência do negócio, que passou por uma longa caminhada antes de se estruturar como cooperativa. Antes eles atuaram por meio do Protocolo Comunitário de Bailique, instituição de base que identificou as potencialidades da comunidade, os principais desafios, suas necessidades de estruturação e de capacitação.

Depois, foram promovidos treinamentos sobre as práticas de manejo, sobre como lidar com o açaí desde a coleta, até o armazenamento e transporte, para que houvesse o menor nível possível de contaminação. “Nossa ideia sempre foi oferecer um produto de qualidade, saudável, diferenciado e certificado para colocar no mercado. Foi muito bom ter a oportunidade de compartilhar nossa experiência e conhecer as outras. Foi muito positivo para clarear as ideias”, conta Jeová.

Algumas das organizações participantes. Fotos: Amilton Mineharu Matsunaga

Próximos passos para as organizações

Entre as contribuições da oficina apontadas pelos participantes e parceiros está a criação de uma conexão permanente entre os envolvidos, em especial as organizações que estão próximas geograficamente e que podem colaborar entre si nos negócios, aumentando suas potencialidades perante o mercado. A representante dos parceiros Quitandoca e Central do Central do Cerrado, Janaína Fragoso, pontua essa particularidade das atividades do Desafio, em especial no que diz respeito a estratégias de comercialização. “É uma oportunidade boa para pensar nessas estratégias e atuar em rede, com parceiros que queiram comercializar desse modo. Assim podemos trabalhar em uma proposta de comercialização solidária da Agricultura Familiar”, explica.

A criação dessa rede entre os negócios de cada localidade e também entre todas as organizações cadastradas no Desafio, no Mapeamento e no Panorama de Negócios Comunitários do Brasil faz parte dos próximos passos do Desafio Conexsus, além do Ciclo de Desenvolvimento de Negócios Sustentáveis, próxima fase prática da iniciativa. “Percebemos que os participantes querem a continuidade desse relacionamento e a criação desse ecossistema é um objetivo da Conexsus. A ideia é que quem faz parte dessa rede que estamos criando possa ser beneficiado de alguma maneira. Assessorar, contribuir, mesmo que à distância, com informativos, indicações de compras institucionais e gerar conhecimento a respeito desses temas é uma meta do Desafio”, esclarece Júnior, da Conexsus.

Essa vontade é demonstrada também por Max Souza, da Cooperativa Agrícola da Gleba do Matapi. “Como empresa coletiva, com mais de cem cooperados, participamos e queremos levar em frente o plano de escoar nosso produto, a partir do beneficiamento de poupa de frutas, para fora do Amapá. É interessante agregar outras cooperativas do estado nesse projeto, para que eles tragam seus produtos e a gente beneficie. Juntos, colocar no mercado nacional e trazer desenvolvimento local para a Amazônia”, relata.

Participantes conhecem o modelo de negócios e os produtos dos demais empreendimentos. Fotos: Amilton Mineharu Matsunaga

Desafio Conexsus 2018

A Oficina de Negócios Comunitários Sustentáveis faz parte de um ciclo de encontros que teve início em junho, em Belém (PA), e está sendo realizado em mais 12 cidades que reúnem, até setembro, representantes de todas as regiões brasileiras. Além disso, serão realizadas visitas técnicas a algumas organizações para compreender melhor o funcionamento e produção delas. Ambas as atividades devem abranger cerca de 300 participantes do Desafio Conexsus.

Os mais de mil negócios cadastrados na iniciativa, durante os meses de maio e julho, compõem o Mapa e o Panorama de Negócios Comunitários Sustentáveis no Brasil, aberto para consulta online pública pelo site www.desafioconexsus.org. As organizações interessadas em participar do Desafio ainda podem se cadastrar no site para acompanhar oportunidades futuras, bem como integrar a rede nacional de negócios comunitários sustentáveis que está em formação.

Uma das expectativas é que estes empreendimentos, os parceiros cocriadores da iniciativa e outras organizações que compõem esse ecossistema de negócios sustentáveis tornem-se uma rede ativa de fomento ao desenvolvimento sustentável, com a possibilidade de atrair e criar outras oportunidades além das já previstas para o Desafio Conexsus 2018.

Após a realização das oficinas, 70 participantes serão convidados a participar do Ciclo de Desenvolvimento de Negócios Comunitários Sustentáveis, que conta com uma jornada de aceleração, oficinas de modelagem de negócios, laboratório de soluções de acesso à comercialização e mercados, e laboratório de crédito e soluções financeiras.

Participantes e Parceiros

Estiveram presentes na oficina em Macapá: Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH), Insituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Central do Cerrado, Conselho Nacional de Populações Extrativistas (CNS), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), OCB/AP – Organização de Cooperativas do Amapá e Quitandoca.

Representantes das 23 organizações participantes da oficina de Macapá (AP). Fotos: Amilton Mineharu Matsunaga

Participaram as organizações comunitárias:

  • ACIOBIO – Associação de Moradores e Trabalhadores em Produtos da Cadeia da Sociobiodiversidade dos Médio e Baixo Rios Cajari e Muriacá Em Atividade Na RESEX – Cajari

  • AMAEX-CA – Associação dos Moradores Agroextrativistas do Cajarí

  • AMBAC – Associação de Mulheres do Baixo Cajarí
  • AMOBIO – Associação Das Mulheres Moradoras Trabalhadoras da Cadeia de Produtos da Sociobiodiversidade No Alto Resex Cajari

  • AMPAFOZ – Associação das Mulheres Produtoras Agroextrativistas da Foz do Rio Mazagão Velho

  • AMPRAEX-CA – Associação de Moradores e Produtores da Reserva Extrativista Do Baixo Cajari

  • Associação de Mulheres do Pesqueiro

  • Associação dos Caranguejeiros de Soure

  • Associação dos Extrativistas Ribeirinhos do Rio Araguari – Associação Bom Sucesso

  • ASTEX-CA – Associação dos Moradores Agroextrativistas do Rio Cajari

  • Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Mapuá
  • Associação São João
  • Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas das Comunidades do Curuça e Furo do Maracá
  • Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Carvão
  • Associação dos Trabalhadores Agroextrativista do Rio Jupatituba
  • CAMAIPI – Cooperativa dos Produtos da Amazônia

  • CASSIPORÉ – Cooperativa Agroextrativista Cassiporé

  • Cooperativa Agrícola da Gleba do Matapi
  • Cooperativa Mista Agropecuária Amapaense

  • Cooperativa Mista Agroextrativista dos Produtores do Vale do Jari
  • Cooperativa Mista Extrativista Vegetal dos Agricultores de Laranjal do Jari
  • Cooperativa dos Produtores Agroextrativistas do Bailique
  • Cooperativa de Produtores Agroextrativistas do Oeste Amapaense

São parceiros estratégicos da Conexsus: Good Energies FoundationGrupo Pão de Açúcar, por meio do Instituto GPA, IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e Moore Foundation,Fundo Amazônia, Fundo ValeFundação CertiGIZ /Cooperação Alemã para o desenvolvimento sustentávelClimate and Land Use Alliance (CLUA) e União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes).

São parceiros cocriadores do Desafio Conexsus: Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense (APACO), Central da CaatingaCentral do Cerrado, Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas (Confrem)Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS)Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag)CoomafittEcoa – Ecologia e AçãoEntrenós Planejamento EstratégicoInstituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS)Instituto BioSistêmico (IBS)Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),Instituto Centro de Vida (ICV), Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável (IDESAM), Instituto para o Desenvolvimento Sustentável e Cidadania do Vale do Ribeira (IDESC), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB)Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)Instituto GaiaInstituto Peabiru, Instituto TerroáInstituto Socioambiental (ISA), IPAM AmazôniaInstituto Sociedade, População e Natureza (ISPN)Pacto das ÁguasSentinelas da Floresta, SOS Amazônia  e Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).

Fotos: Amilton Mineharu Matsunaga