Negócios comunitários rurais e florestais não têm capital de giro para enfrentar a pandemia

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A pandemia causada pelo novo coronavírus (COVID-19) provocou milhares de mortes e afetou diretamente os mercados. Pequenos negócios tendem a ser os mais prejudicados – seja pelas medidas de controle necessárias, seja pela mudança no comportamento do consumidor.

Levantamento com 131 negócios comunitários promovido pela Conexsus, em parceria com a Unicafes, o CNS e o Fundo Vale, identificou um cenário preocupante: 80% dos entrevistados não tem reserva de capital para manter suas operações a partir de junho. Sem caixa, os negócios perdem a capacidade de assegurar a compra dos pequenos produtores e de reorganizar sua comercialização junto a varejistas locais ou nas vendas online, hoje mais buscadas pelo consumidor.

As entrevistas foram realizadas por telefone na segunda quinzena de abril com objetivo de mapear o impacto da crise na agricultura familiar e no extrativismo e orientar as prioridades do Plano de Resposta Socioambiental da Conexsus. A pesquisa avaliou os efeitos na demanda e comercialização, na organização do trabalho e na gestão de caixa e patrimônio.

Até o momento, a maior sequela tem sido na comercialização: 70% das cooperativas e associações entrevistadas sofreram redução no volume de vendas. Problemas de logística na entrega de produtos, resultado do isolamento social, afetam 35% das cooperativas e associações. A maioria não está preparada para estocar a produção que, repentinamente, deixou de ser vendida, mesmo nos casos dos produtos menos perecíveis. Falta espaço e caixa para manutenção dos custos desse estoque inesperado.

Caixa apertado
As cooperativas e associações produtivas com menor faturamento anual precisam de socorro imediato. Na faixa de faturamento até R$ 120 mil, 90% já estão com o caixa praticamente vazio. Elas representam 35% do total de negócios entrevistados.

Os negócios comunitários com faturamento anual acima de R$ 120 mil e até R$ 600 mil vem em seguida: 23% deles não terão capital de giro suficiente a partir de julho.

Mesmo na maior faixa de faturamento, acima de R$ 10 milhões ao ano, a situação é preocupante, já que 80% prevê que têm reservas para segurar as despesas só até o final de setembro. Elas são apenas 7% dos entrevistados.

 

Safras comprometidas
As cooperativas entrevistadas, distribuídas por 19 estados em todas as regiões do Brasil, trabalham com produtos extrativistas, como açaí, castanhas, borracha natural e mel; e hortifrutigranjeiros, como hortaliças, frutas e leite.

Mais da metade dos negócios florestais informam que as safras de baru, castanha-do-brasil, castanha de caju e cumaru já foram impactadas este ano, seja pelas dificuldades de coleta devido ao distanciamento social, seja pela queda de demanda no mercado ou pela falta de capital de giro para pagar os extrativistas no momento da entrega dos produtos.

No caso dos hortifrutigranjeiros, mais da metade das cooperativas relataram que as safras de milho, laranja e uva também já sofrem os efeitos da crise. Nesses casos, além dos impactos da pandemia há queda na produção por conta da seca que atingiu o Sul e Sudeste no verão.

O levantamento é a base da estratégia do Plano de Resposta Socioambiental que, nos próximos meses, dará suporte a cooperativas e associações produtivas em todo o país. O plano é uma iniciativa conjunta com a União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), o Conselho Nacional de Populações Extrativistas (CNS) e o Fundo Vale. As medidas contam com apoio de importantes doadores como o Instituto GPA, Fundação Good Energies, Fundação Arymax e CLUA.