Representantes latino-americanos explicam as oportunidades geradas pela Venture Philanthropy no Brasil

Voltar para Notícias

Após participarem de conferência anual sobre o tema na Polônia, integrantes de organizações envolvidas com desenvolvimento de impacto socioambiental falam sobre suas percepções

Brasil foi o país com maior número de representantes na comitiva latino-americana.

Há um consenso entre pelo menos cinco dos 20 representantes de instituições envolvidas com o desenvolvimento de negócios de impacto na América Latina, que participaram da 14ª conferência anual da European Venture Philanthropy Association (EVPA): o de que, individualmente, os pontos centrais do conceito já são praticados no Brasil. Porém, o que falta é a união dessas estratégias e um trabalho conjunto. E esse foi um dos intuitos da participação da delegação no evento, realizado em Varsóvia, na Polônia, entre os dias 28 e 30 de novembro.

A Venture Philanthropy – ainda sem tradução fiel para o português – se concretiza em três conceitos-base: “impact management, tailored finance e non-financial support”, que pressupõe mensuração do impacto dos resultados, compreensão do tipo de financiamento necessário e suporte além do financeiro por meio de processos de mentoria. “A participação da delegação latino-americana foi essencial para o estreitamento dos laços com a EVPA, no sentido de estudar a ampliação do trabalho que já é realizado há anos na Europa para o Brasil e outros países engajados no mesmo propósito”, comenta a diretora de operações da Conexsus, Carina Pimenta, uma das representantes brasileiras na Polônia.

Abaixo, cinco representantes brasileiros comentam o que o conceito poderá agregar, se trazido para a América Latina, no campo do investimento híbrido brasileiro, especialmente na área socioambiental.

Foi o GIFE – Grupo de Institutos Fundações e Empresas quem promoveu a ida para a Conferência de uma delegação latino-americana composta por 20 representantes de instituições do Brasil, Peru, Chile, México e Colômbia.

Carina Pimenta – Diretora de operações da Conexsus – Instituto Conexões Sustentáveis

O conceito de Venture Philanthropy é novo no sentido de abarcar parte das inovações que institutos, fundações, family offices e outros doadores tradicionais vem buscando para obter maior resultado de impacto. Em um primeiro olhar, percebemos uma identificação, pois é um campo de criação e inovação que é necessário desenvolver para alcançarmos outros resultados. Ao mesmo tempo, a experiência acumulada nesses 13 anos de aperfeiçoamento do conceito mostra que existe um campo grande de avanço no contexto brasileiro.

Saber o que as organizações pensam e precisam e, a partir daí, construir estratégias: nas premissas da Venture Philanthropy, esse é um dos elementos mais desafiadores, porque isso significa ter um diálogo muito maior e mais estratégico com o seu círculo de parceiros. Para mim, o que ficou mais forte da experiência de participar do evento é que o conceito, ao mesmo tempo que traz a inovação, permite uma abertura de diálogo em novos parâmetros de relação investidor-investido e de doador-receptor. Permite mais flexibilidade, parceria e corresponsabilidade com os resultados os projetos. Isso é algo conceitualmente muito interessante.

Estamos evoluindo no campo de colaboração há um certo tempo, mas praticando pouco. Portanto, existe um campo de experimentação grande para testar o conceito, ver na prática como funciona e perceber a estrutura necessária.É importante testar e experimentar, porque é na prática que essas nuances se apresentam como possibilidades de inovação no campo da filantropia institucional. Esse espaço [o evento] de agregação de um grupo diverso de instituições é essencial para a formatação dessas práticas e a abertura para o diálogo com essas outras instituições da sociedade civil, que são os receptores dos recursos. Na prática, é essencial para que entendam o conceito e desenvolvam protótipos juntos. Isso cria uma mudança de paradigma grande e importante.

Camila Aloi – Assessora de Relacionamento do GIFE

O grande agregador da Venture Philanthropy é o fator de encurtar distâncias entre o financiador e a organização social na construção de um projeto, no sentido de perguntar para a organização o que ela precisa. A partir dos três pontos que formam o tripé conceitual, acredito que é possível gerar impacto social. O processo de escuta da organização, de mentoria, de avaliação de impacto, tudo isso é uma troca muito grande entre o financiador e a organização beneficiada.

Acontece muito hoje em dia de as empresas fazerem um edital e as ONGs terem que se adaptar. A ideia é inverter isso, consultar primeiro a necessidade da organizações, desenvolvendo a institucionalidade delas. Com o financiamento híbrido, há a liberdade para a organização investir onde ela acha que precisa. Na compra de material, beneficiar em estrutura, por exemplo.
Uma grande oportunidade que surge após o evento é o diálogo maior entre os atores da América Latina. Apesar de geograficamente próximos, não temos até hoje, de forma tão consciente, a construção de um projeto assim.

Guilherme Karam – Coordenador de Negócios e Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário

No campo socioambiental, que é onde temos experiência com a Fundação Grupo Boticário, existe uma tradição de financiamentos curtos que são descontinuados depois do término do projeto. Essa provocação de trabalhar essas estratégias em rede, que foi feita no evento, faz com que pensemos em estratégias de maior duração. Pararia de pensar numa estrutura com centenas de projetos pequenos e pensaríamos em ter maior duração e maior impacto. Para a conservação, recuperação florestal e água é exigência que exista longo prazo nos projetos e é isso o que a Venture Philanthropy traz, mais tempo de apoio.

Algo importante também é casar modelo de negócio nas iniciativas apoiadas. Tentar apoiar não só financeiramente mas também com mentoria, rede de contatos, estar bem próximo para que ela não fique dependente só daquele projeto ou de editais.

Márcia Soares – Analista de Meio Ambiente do Fundo Vale

Acredito que a vantagem e o que seria interessante em trazer o tema para a América Latina é a aproximação com outras instituições que já estão conectadas com uma agenda que vem amadurecendo no mundo todo. A disseminação cursos sobre o assunto que é feita na Europa pode ajudar a fortalecer as ações que são voltadas para os negócios de impacto aqui.

O importante é fortalecer as ações por meio de mais conhecimentos e de conexões. O principal ponto que a Venture Phipanthropy agrega é o aumento do impacto social ou ambiental de suas ações, com ganho de escala e perenidade das iniciativas, e isso faz um paralelo com o que já buscamos. Os próximos passos incluem se aprofundar mais no tema, ter uma frente de ação conjunta em 2019, promover cursos e disseminar entre os atores que estiveram lá.

Alexandre Lindenbojm – Sócio-fundador da Wright Capital Wealth Management

O conceito de Venture Philanthropy viabiliza o nascedouro até a travessia dos negócios de impacto social, de modo que seja possível multiplicar o número de oportunidades que vão nascer e fortalecer durante todo o curso de seu desenvolvimento.

O propósito é ver o que cada uma dessas organizações precisa, sem enxergar apenas o que o investidor quer dar. Ou seja, a proposta é sentar lado a lado com o empreendedor e entender o que ele precisa. Assim como precisamos no Brasil de educação para as pessoas, precisamos de suporte organizacional. Não adianta dar só dinheiro, precisa dar treinamento e conteúdo para aprender como empreender. O universo do investimento de impacto busca capital mais consciente e empático.