Veia cooperativista e agricultura familiar são foco da oficina do Desafio Conexsus no Sul do país

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Expansão dos mercados para a agricultura familiar para além das compras públicas foi um dos pontos de discussão entre os participantes dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul

Formação de rede é um dos objetivos da oficina em Chapecó. Fotos: Valdecir Gasparini

Foi realizada nos dias 12 e 13 de setembro, no CETREC – Centro de Treinamentos da Epagri, em Chapecó (SC) a Oficina de Negócios Comunitários Sustentáveis do Desafio Conexsus, realizado pela Conexsus – Conexões Sustentáveis. As atividades tiveram 16 horas de duração, com trocas de experiências entre as 24 organizações participantes, com foco no desenvolvimento dos negócios sustentáveis brasileiros, sempre com base na conexão entre agentes envolvidos.

As organizações participantes atuam nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com a presença de segmentos diversos, como da agricultura familiar, povos assentados e quilombolas, agricultores familiares tradicionais e ilhéus.

Para o integrante da Conexsus e mediador da oficina em Chapecó, Paulo Guilherme Cabral, a extensa experiência dos empreendimentos participantes na produção sustentável de alimentos limpos e saudáveis, com utilização de práticas agroecológicas e orgânicas, foi fator de destaque na atividade. “Os negócios enfrentam situações similares, por isso é importante compartilhar experiências, falar como eles estão enfrentando os desafios de organizar o negócio, de atingir mercados de forma regular e de captar recursos financeiros para investir”, explica.

A experiência dos empreendedores participantes na produção agroecológica chamou a atenção do mediador da Conexsus Paulo Guilherme Cabral. Fotos: Valdecir Gasparini

Um dos participantes que aplica a agroecologia nos negócios é Nilton Agner, vice-presidente da Cooperativa de Agricultores Orgânicos e de Produção Agroecológica (COAOPA), original de Colombo (PR). Desde 2014, quando iniciou as atividades, a cooperativa expandiu o trabalho com cooperados em outros locais da Região Metropolitana de Curitiba, do Vale do Ribeira, Bahia e São Paulo. O projeto agora é abrir novos mercados e ir além do fornecimento para instituições públicas – hoje a COAOPA fornece produtos para alimentação escolar para dez prefeituras do Paraná.

Os mais de 400 cooperados produzem e processam cerca de 300 itens, que incluem até produtos de panificação, geleias e doces. “A tendência é abrir e fortalecer outras formas de venda, além das compras públicas ir para as não-públicas, isso é importante para não depender dos editais governamentais”, explica Agner, que completa dizendo que o foco da cooperativa no momento também inclui “atingir um público mais carente e trabalhador, não só as classes mais altas, como acontece”.

Empreendimentos dos três estados do Sul do Brasil participaram da oficina em Chapecó. Fotos: Valdecir Gasparini

A participação na oficina, segundo Agner, ajudou a esclarecer algumas ideias sobre expansão. “A realidade da agricultura familiar é parecida, mas o contexto de cada região muda um pouco, por isso as trocas são importantes. A conversa na oficina foi boa para ver um desenho mais geral das dificuldades das outras cooperativas e como resolver”, comenta.

Finanças

O crédito rural cooperativo é prática comum entre os participantes, reflexo da tendência ao cooperativismo característica da região Sul. Um dos parceiros da oficina em Chapecó, que participou do evento com uma fala inspiradora e concedeu apoio ao ceder o Centro de Treinamentos para a realização do evento, foi a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – Epagri. A Epagri é um órgão público e governamental que busca unir conhecimento, tecnologia e extensão para o desenvolvimento sustentável por meio rural para benefício da sociedade.

O pesquisador da Epagri, Clóvis Dorigon, falou sobre mercados agroalimentares para os participantes e sobre as oportunidades para os agricultores familiares, com produção alimentícia diferenciada (orgânicos, artesanais, produtos saudáveis e agroecológicos) e circuitos curtos de mercados – aqueles em que o caminho entre o consumidor e o produtor é feito sem atravessadores. “A discussão proposta pela Conexsus é muito importante, pois faz a ligação entre várias iniciativas e organizações que estão se desenvolvendo de forma parecida, mas que muitas vezes não têm diálogo entre si. A estruturação dessa rede é fundamental”, comenta Dorigon.

Além disso, segundo Paulo Guilherme, da Conexsus, a participação da Epagri contribuiu para “aprofundar o conhecimento acerca da realidade da agricultura familiar em Santa Catarina e da importância da cultura das comunidades rurais para a produção de alimentos saudáveis e tradicionais”.

Atuaram como parceiros da oficina em Chapecó: Associação Brasileira da Agricultura Familiar Orgânica, AgroEcológica e AgroExtrativista (AbraBio), Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense (APACO), Sistema das Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária (Cresol), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Rede EcoVida e União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes).

Apresentação de produtos durante as atividades da oficina. Fotos: Valdecir Gasparini

Desafio Conexsus 2018

A Oficina de Negócios Comunitários Sustentáveis faz parte de um ciclo de encontros que teve início em junho, em Belém (PA), e está sendo realizado em mais 12 cidades que reúnem, até setembro, representantes de todas as regiões brasileiras. Além disso, serão realizadas visitas técnicas a algumas organizações para compreender melhor o funcionamento e produção delas. Ambas as atividades devem abranger cerca de 300 participantes do Desafio Conexsus.

Os mais de mil negócios cadastrados na iniciativa, durante os meses de maio e julho, compõem o Mapa e o Panorama de Negócios Comunitários Sustentáveis no Brasil, aberto para consulta online pública pelo site www.desafioconexsus.org. As organizações interessadas em participar do Desafio ainda podem se cadastrar no site para acompanhar oportunidades futuras, bem como integrar a rede nacional de negócios comunitários sustentáveis que está em formação.

Uma das expectativas é que estes empreendimentos, os parceiros cocriadores da iniciativa e outras organizações que compõem esse ecossistema de negócios sustentáveis tornem-se uma rede ativa de fomento ao desenvolvimento sustentável, com a possibilidade de atrair e criar outras oportunidades além das já previstas para o Desafio Conexsus 2018.

Após a realização das oficinas, 70 participantes serão convidados a participar do Ciclo de Desenvolvimento de Negócios Comunitários Sustentáveis, que conta com uma jornada de aceleração, oficinas de modelagem de negócios, laboratório de soluções de acesso à comercialização e mercados, e laboratório de crédito e soluções financeiras.

São parceiros estratégicos da Conexsus: Good Energies Foundation, Grupo Pão de Açúcar, por meio do Instituto GPA, IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e Moore Foundation,Fundo Amazônia, Fundo Vale, Fundação Certi, GIZ /Cooperação Alemã para o desenvolvimento sustentável, Climate and Land Use Alliance (CLUA) e União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes).

São parceiros cocriadores do Desafio Conexsus: Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense (APACO), Central da Caatinga, Central do Cerrado, Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas (Confrem), Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Coomafitt, Ecoa – Ecologia e Ação, Entrenós Planejamento Estratégico, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS), Instituto BioSistêmico (IBS), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),Instituto Centro de Vida (ICV), Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável (IDESAM), Instituto para o Desenvolvimento Sustentável e Cidadania do Vale do Ribeira (IDESC), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Instituto Gaia, Instituto Peabiru, Instituto Terroá, Instituto Socioambiental (ISA), IPAM Amazônia, Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Pacto das Águas, Sentinelas da Floresta, SOS Amazônia  e Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).

Oficina está sendo replicada em outras 12 cidades brasileiras. Fotos: Valdecir Gasparini

Confira mais fotos na galeria abaixo.

Fotos: Valdecir Gasparini