Covid-19: Em publicação, Conexsus compartilha aprendizados e impactos alcançados pela Linha de Crédito Emergencial

A iniciativa fez parte do Plano de Resposta à Covid-19 e combinou acesso à crédito com assessoria para aliviar o impacto da crise econômica provocada pela pandemia nos negócios comunitários sustentáveis

A pandemia de covid-19 completa três anos este mês (março de 2023), período em que contabilizou mais de 676,5 milhões de casos e 6,8 milhões de mortes. Para além do impacto sanitário, a pandemia agravou também as desigualdades.

Como resposta institucional a essa crise, a Conexsus, em parceria com a UNICAFES (União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária), o CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas) e o Fundo Vale, criou o Plano de Resposta à Covid-19* para aliviar o impacto da crise econômica provocada pela pandemia nos negócios comunitários sustentáveis.

Levantamento com 131 negócios serviu como base para a estruturação do Plano, e ajudou a desenvolver uma Linha de Crédito Emergencial, pensada para o contexto de pequenos produtores e extrativistas, que ajudou 82 organizações, de 21 estados brasileiros, a manterem suas portas abertas.

“A iniciativa foi formatada em resposta ao cenário atípico que estávamos vivendo, e com base nos impactos graves que a pandemia já estava tendo para as organizações com as quais nos relacionávamos”, relembra Monika Röper, Coordenadora de Desenvolvimento de Negócios Comunitários da Conexsus. “Mas, a sua construção também se conecta com toda a trajetória e aprendizados sobre financiamento e crédito que a Conexsus já vinha produzindo desde a sua fundação”, completa.

Finalizada em 2022, após encerrado o contexto emergencial da criação da iniciativa, a linha reúne agora em uma publicação os principais aprendizados e impactos alcançados. “É o resultado de um processo de reflexão sobre a experiência de conceber e implementar a linha de crédito emergencial”, afirma Monika. 

Acesse a publicação completa aqui. 

 

Principais resultados da Linha de Crédito Emergencial

Antes da linha, 60% das organizações beneficiadas declararam nunca ter acessado nenhum tipo de crédito. Com a primeira fase do projeto, as 82 organizações selecionadas foram beneficiadas com R$ 6,4 milhões – cerca de R$ 2,5 milhões (39%) apenas na Amazônia. 

Com o apoio de parceiros, foi possível conceder capital por 18 meses, período maior que o usual para o mercado, onde as concessões normalmente duram cerca de 12 meses – período de uma safra. Com mais tempo para pagar pelo financiamento, as organizações conseguiam produzir e comercializar seus produtos e, com os lucros, quitar o recurso.

Após as concessões, e em um esforço de premiar as organizações em situação regular pela transparência e responsabilidade, foi disponibilizado ainda um fundo de recursos não-reembolsáveis, no valor de mais de R$ 230 mil reais, com foco no financiamento de atividades para a qualificação de resultados comerciais das cooperativas e associações beneficiadas.

Entre 2020 e 2022, mais de R$ 15 milhões foram concedidos em financiamento por meio da Linha de Crédito Emergencial. 

Desafios da Linha de Crédito Emergencial

Embora bem sucedida, a linha também enfrentou alguns desafios inerentes ao período em que foi concebida. 

A rápida desestruturação causada pela pandemia em algumas cooperativas e associações, por exemplo, sobretudo entre aquelas que estavam ainda validando seu modelo de negócio, mostrou-se um grande obstáculo para o melhor aproveitamento da iniciativa.

Outro fator que está na curva de aprendizagem do projeto é a inadimplência. Das 82 organizações participantes, 11 precisaram de renegociação para ajustar o pagamento do empréstimo à sua realidade. 

Apesar desses desafios, 86% dos aportes haviam sido retornados até o final de 2022 e, das 11 renegociações com negócios comunitários, 05 já se encontram finalizadas.

Aprendizados da Linha de Crédito Emergencial 

• A oferta, pela mesma instituição, de um pacote integrado de acesso a crédito e assessoria financeira é uma operação desafiadora, mas que proporcionou uma dinâmica inovadora de trabalho em rede, permitindo o melhor aproveitamento possível do crédito.
• A partir da dinâmica de atuação da linha, os negócios comunitários puderam ocupar posição de maior autonomia na gestão de suas atividades produtivas, diminuindo a sua dependência de atravessadores ou de arranjos financeiros desvantajosos, possibilitando atuação qualificada em seus territórios, através de acesso a créditos mais robustos.
• Mesmo com o impositivo do distanciamento social e a limitação do acesso à internet, a assessoria de negócios na modalidade virtual teve uma boa aderência – 86% das organizações não indicaram dificuldade de envolvimento nas atividades à distância.
• A junção entre o acesso a crédito e a assessoria financeira impulsiona ainda mais o desenvolvimento das organizações – o que comprovou a replicabilidade do modelo, já em uso mesmo depois do encerramento da linha.

Próximos passos 

A experiência com a linha de crédito de caráter emergencial proporcionou um acumulado de aprendizados que se desdobram em novas perspectivas para esse modelo de iniciativa. 

“É possível trabalhar em novos projetos, com a oferta de condições similares, para continuar com a missão de fortalecer as cadeias de valor de produtos sustentáveis da sociobiodiversidade brasileira”, defende Gustavo Schütz, Coordenador do Programa de Assessoria a Negócios da Conexsus. 

Para ele, o salto observado – entre 2020 e 2022 – no percentual de negócios comunitários com algum tipo de planejamento é prova da eficácia do modelo. “Houve um crescimento de 26% para 74% no índice de organizações que participaram do Plano. Esses números podem ser traduzidos como mais autonomia e perenidade para essas organizações”, destaca. 

A expectativa agora é que o impulso da linha sirva de degrau para que as organizações, com as próprias terras e mecanismos, possam acessar créditos maiores, como os créditos públicos do Pronaf, por exemplo.

 

*A iniciativa contou também com o apoio da rede de supermercados Pão de Açúcar, por meio do Instituto GPA, da Fundação Arymax, Fundação Good Energies, CLUA, Instituto Humanize, B3 e USAID.